Opinião
Alagoanidades
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Integrando o projeto ALAGOANIDADES de nossa Academia Alagoana de Letras, os sócios efetivos dissertaram temas aliciantes.
Coube-me fazer um breve resumo sobre o Centro Histórico da nossa querida Maceió, onde surgiram as primeiras e principais edificações de nosso Estado. Quatro prédios, naquela região, fizeram parte da minha vida: a Santa Casa de Misericórdia – o primeiro hospital do Estado – onde nasci, na Maternidade Sampaio Marques, cujas lembranças são para mim afetivas. Lá, prestaram serviços profissionais meus dois avós: Manuel Rufino de Gusmão, Manoel Sampaio Marques, meu pai Antônio Marinho de Gusmão, meu inesquecível Cícero Canuto e Eu, que lá trabalhei por vários anos. Atualmente, meu filho Sérgio completa a quarta geração que lá desenvolve suas atividades médicas. Outro prédio, do qual guardo recordações, é a tradicional Faculdade de Direito, onde o meu pai, já atuante odontólogo, foi integrante da primeira turma daquela Escola e o primeiro bacharel a colar grau, horas antes de seus colegas, com o objetivo de secretariar o evento da formatura. Já, a histórica Faculdade de Medicina me traz duas felizes memórias: o dia da formatura de meu amado Cícero e meus primeiros 4 anos de curso médico, já que nossa turma foi a primeira a se transferir para a Cidade Universitária, onde concluímos nossa jornada. Finalmente, o Teatro Deodoro, em cujo palco me apresentei, mais de uma vez, nas audições de piano da saudosa Profa. D. Iolanda Ramires Regis. Recordo-me, quando aos 10 anos, abri a solenidade tocando o Hino Nacional. Foi uma grande emoção ver a plateia, toda em pé, ouvir-me tocar. Vocês conhecem a história do Teatro Deodoro? É interessante. Aliás, eu diria melhor: bizarra! A ideia de criar o primeiro Teatro em Maceió foi do governador Manuel Duarte em 16 de setembro de 1898, homenageando a nossa emancipação política. Nessa data foi feita a cerimônia da colocação da pedra fundamental. O primeiro local destinado ao Teatro era no Centro da Praça, onde havia o alicerce de uma igreja. Os religiosos estavam descontentes com a mudança dos planos. Acontece, que na hora do hasteamento da bandeira, ao se cantar nosso hino nacional, observou-se que o pavilhão estava invertido, ou seja “de cabeça para baixo”. No dia seguinte, o jornal Gutemberg publica que o Teatro, que deveria se chamar 16 de Setembro era encaiporado, que vem de uma figura da mitologia tupi-guarani: a Caipora, que significa azarada, infortunada. Iniciada a obra, após alguns meses, a construção foi paralisada devido à falta de recursos. Dois anos depois, uma forte ventania derrubou as paredes. Novamente, atribuíram à maldição ao teatro. Em 1905, o governador João Paulo Malta decretou a demolição do que restou da primeira obra e transferiu a localização para o seu atual local. Nessa etapa da obra, foram soterrados dois operários. Novamente, atribuíram à maldição do teatro, ou seja teatro encaiporado. Em 1908, a construção foi novamente paralisada. O prédio ficou abandonado servindo de dormitório para leprosos, malandros, mictório público... Lamentável! Recomeçadas as obras, enfim em 1910 o teatro Deodoro foi entregue ao público. No dia da inauguração, muitas pessoas faltaram à cerimônia, desconfiadas de que o teatro desabaria sobre suas cabeças, por ser encaiporado. Essas são algumas das minhas lembranças memoráveis.