Opinião
O racha da direita e a Covid-19
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A pandemia da Covid-19 está provocando a ruptura do pacto político da direita brasileira e até mundial. Este pacto começou a ser construído internamente em junho de 2013, sob a fachada dos protestos contra o aumento das passagens dos ônibus nas grandes cidades. Estas manifestações enganaram até mesmo alguns setores progressistas, que não se aperceberam que aquele movimento era uma repaginada Marcha da Família com Deus Pela Liberdade, um conjunto de manifestações ultra-direitistas, realizadas entre março e junho de 64, liderada pelo clero anti-comunista, empresários e a classe política reacionária, numa retaliação ao comício da Central do Brasil, convocado pelo então Presidente João Goulart, no qual anunciou as Reformas de Base, que antecederam ao golpe de 64.
Foram precisamente estas reformas estruturais pretendidas por Jango, que jogou o Brasil no Dia que Durou 21 Anos, título do documentário do diretor Camilo Tavares, retratando a participação direta da CIA e da Casa Branca nas ações militares que implantaram a ditadura militar no Brasil. A influência dos EUA nos golpes militares na América Latina sempre foram uma constante histórica, derrubando governos eleitos democraticamente. Foi com o apoio imperialista americano, que vários Golpes de Estado instituíram regimes totalitários e ditaduras sanguinárias na Argentina, Chile, Uruguai, Bolívia e Paraguai, dentre outros países do continente, sobretudo entre os anos 50 e 80. O negacionismo da pandemia pelo Governo Bolsonaro, levou a desestruturação do acordo das classes dominantes, que tinham como prioridade eleger Geraldo Alckmin, Marina Silva ou até mesmo Ciro Gomes, mas que, em razão da criminalização da política pela mídia, resultou na eleição do fascista outsider Jair Bolsonaro para o Palácio do Planalto. O capitão nunca foi o preferido das classes dominantes brasileiras. A burguesia nacional o aceitou como opção, apenas para derrotar o Partido dos Trabalhadores. Bolsonaro e seus tresloucados seguidores foram crias das elites para ser uma espécie de milícia ideológica anti-petista; jamais para protagonizar a história, sob a égide da maior farsa ocorrida em nosso país, conhecida como Lava-Jato.
A direita tradicional que engedrou o golpe parlamentar, midiático, judicial e econômico do impeachment contra a Presidenta Dilma Rousseff, precisa agora retomar a hegemonia do processo político. O Bolsonarismo já cumpriu seu papel. O contraditório aumento da popularidade de Bolsonaro aumentam as desconfianças dos setores conservadores homogênicos ao longo de décadas. Bolsonaro é o ponto fora da curva da direita liberal, representada pelo PSDB, DEM, partidos do centrão e setores do PMDB. O fascismo foi útil para derrotar Lula e o PT, garantindo a agenda e as reformas neoliberais liderada por Paulo Guedes. Os novos líderes da direita clássica, capitaneada pelo Governador de São Paulo João Doria Jr, entretanto, entendem que têm que retomar o poder. Precisam de um bode expiatório para jogar a culpa do imenso retrocesso civilizatório: o presidente da república, responsabilizando-o pela crise sanitária e pela recessão econômica. A ruptura deste pacto do anti-petismo começa a desnudar o verdadeiro imbróglio que está por trás do racha no campo conservador, afinal, 2022 está logo ali.