Opinião
Ordem e progresso
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Por que a frase “Ordem e Progresso ”está afixada na bandeira nacional? O francês Augusto Comte (1798-1857), um dos mais influentes filósofos da sua geração, foi o fundador do Positivismo, linha filosófica e também religiosa que inspiraria muitos seguidores, entre os quais Benjamim Constant ,(1836-1891), o criador da frase “Ordem e Progresso” atada ao pavilhão nacional e que deveria nortear a trajetória brasileira. Segundo Comte, que contribuiu também para a construção da sociologia que sequer existia, tudo no mundo seguiria uma sequência inevitável de estados: o transcendental, o místico para então chegar ao positivo. No estado positivo a ciência deveria renunciar a tudo o que não é passível de observação real e se debruçar sobre os fatos e as relações concretas entre eles.
Para Comte e o Positivismo, todo acontecimento histórico dependeria de dois guias: a Ordem, que faz com que os estados não sejam modificados por revoluções ou grandes transformações, e o Progresso, como resultado inevitável de uma Ordem que só poderia ir pra frente. A Ordem e o Progresso seriam as condições fundamentais da civilização moderna. O Positivismo obteve proeminente importância nas forças que vicejaram e influenciaram na transição do Império para a nossa República. Liderados por Benjamim Constant, os positivistas lutaram pela proclamação da República, pela separação entre o Estado e a Igreja, pela incorporação do proletariado na sociedade (em uma perspectiva diferente dos socialistas e comunistas que defendiam o mesmo, mas com direitos sociais consignados e via o conflito de classes), pela proteção aos indígenas e ao meio ambiente e ainda o pagamento de salários às mães de família pelo trabalho de educação dos filhos; ressaltava, sobretudo, os valores republicanos, com a colocação dos interesses coletivos acima dos individuais. O Positivismo pleiteava pelo fim da escravidão, não por motivos humanitários, mas porque evitaria revoltas como a cubana. Benjamim Constant e os positivistas que inspiraram a “Ordem e o Progresso” na bandeira nacional não reconheceriam nenhuma herança de seu Positivismo nos dias atuais, onde a Ordem nunca esteve mais afetada e atribulada: a tragédia da pandemia de Covid19 foi tratada pelo governo federal com desobediência absoluta em relação às orientações da OMS e das autoridades científicas mundiais, foi enfrentada com negacionismo científico e com indisciplina, com repetidas manifestações antidemocráticas que pregavam a derrubada e o fechamento das instituições democráticas da República, como o STF e o Congresso (que são insatisfatórias, desalentadoras, mas inalienáveis à República) e ainda com o incentivo e a presença do presidente da República e de militares de alta patente, que só arrefeceram o arreganho autoritário com a prisão de um tal Queiroz. Constant condenaria veementemente a desagregação interna do Ministério Publico Federal e a desestruturação da operação Lava Jato, principal responsável pelo combate à corrupção nos governos petistas et caterva, ações promovidas pelo PGR Augusto Aras, que travam uma despudorada corrida de obstáculos com outros candidatos à vaga do STF, onde o vencedor será não o mais dotado do tal “notório saber jurídico”, mas o que superar mais barreiras por “insuperável e inesgotável subserviência ao PR”. Das premissas do Positivismo de Benjamim Constant, que inspiraram a formação da nação republicana brasileira, as Leis ainda não conseguem tratar igualmente amigos, parentes e adversários do poder, a Ordem é escamoteada tanto pelas condutas erráticas como pela relação eleitoreira entre Poder e denominações populistas da Igreja Evangélica, cujo pastor que batiza no rio Jordão é o mesmo que é preso por comandar organização criminosa, pela pastora deputada acusada de assassinato e outros líderes religiosos fundamentalistas que, em sua insaciável sede de poder e dinheiro, denigrem e desordenam a religião. Na original e fundamental preocupação do Positivismo com a educação, lá tivemos o desordeiro Weintraub... e com a preservação do meio ambiente, o País detém péssima imagem na opinião pública mundial. Um País que prometia muito e, parecendo decadente, precisa recuperar a Esperança. Spinoza (1632-1677) escreveu: “ Não há Esperança sem Medo, nem Medo sem Esperança”. O Brasil tem, para gáudio geral dos democratas e dos republicanos brasileiros, uma imprensa livre, atuante e vigorosa, a nossa principal fonte de informações e também de Esperanças.