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Opinião

Pandemônio da agonia

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Por Alfredo Gazzaneo Brandão – engenheiro civil | Edição do dia 17/09/2020 - Matéria atualizada em 17/09/2020 às 06h00

Dizem que hoje, feriado, é dia importante para o nosso Estado. Para mim, trabalhador doméstico, em “home Office”, é um dia importante igual a todos os outros, diferente apenas pela convivência com esse incômodo que nos tornou prisioneiros de nós mesmos.

E a vida, como fica a nossa vida nesse turbilhão de hipóteses e novas teorias, onde as cobaias dessa nova experiência somos nós mesmos? Acredito que já estivemos em pior situação. O incômodo começa a se dissipar. Não sei se por adaptação à situação ou mesmo por redução dos seus efeitos restritivos, em consequência da melhoria observada no cenário atual. Na verdade, hoje eu já consigo enxergar luz no fim do túnel. De forma concreta, percebo que a vida retorna à “normalidade”, desde que entendamos que o normal é relativo, adaptável e moldado de forma a permitir que ela continue acontecendo, o que não poderia ser diferente, e seu caminho possa ser trilhado sem percalços, sem atropelos. Devemos entender que a capacidade de criar e de desenvolver mecanismos de sobrevivência é exclusivamente nossa e temos o dever de por em prática, em prol do nosso bem estar. Não podemos nem devemos abdicar da vida nem deixar de reinventar a história. Sejamos corajosos e atrevidos. Neste momento, não cabe a apatia, o conformismo e, muito menos, a resignação. É tempo de guerra e hora de tomada de decisões. Se ficamos todo o tempo atrás das mesmas trincheiras, na ilusão de estarmos protegidos, poderemos ser surpreendidos numa emboscada. O correto, no meu ponto de vista, é usar a camuflagem e seguir adiante, claro que evitando o campo aberto, pulando de uma trincheira para outra, sempre na direção da vitória, mas nunca ficar parado esperando acontecer. Temos é que fazer acontecer. Não posso dizer que não me senti enclausurado, tendo minha liberdade de ir e vir cerceada e meu prazer de conviver em família e entre amigos e colegas, extremamente limitado, principalmente pelo fato de que a maioria das pessoas pensa diferente de mim. Forcei a barra, como sempre faço, e saí, atendendo às minhas necessidades, sem incomodar ninguém, tomando todas as precauções obrigatórias e realmente necessárias. Afinal de contas, ser rebelde não significa necessariamente ser irresponsável mas sim, promover, ampliar e estender, ao máximo possível, minha área permitida de limites. Toda essa reflexão veio do fato de ontem, ao final da tarde, ter resolvido descer para caminhar na praia, o que não acontecia desde o começo dessa loucura. Além do tênis e da roupa apropriada, coloquei a nova peça do vestuário, a máscara que já se tornou hábito e acredito ser, o seu uso, realmente necessário, tanto para me proteger, como para proteger as outras pessoas. Causou-me surpresa constatar que a vida havia voltado à normalidade, no bairro da Ponta Verde. Bares funcionando com música ao vivo, grande número de pessoas caminhando e praticando esportes, ambulantes voltando às atividades, a economia voltando a brotar, e o caótico fluxo de veículos fazendo-nos lembrar dos velhos tempos. O que me deixou imensamente constrangido foi constatar que ainda um grande número de pessoas, isoladamente e em grupos não usavam máscaras de proteção, numa total demonstração de ignorância, desrespeito e de falta de responsabilidade e solidariedade para com eles próprios e para com os outros. As duas regras de convivência que ainda estão sendo exigidas e que, acredito permanecerão ativas por um bom tempo, até que chegue a tão esperada vacina, são o distanciamento entre pessoas e o uso da máscara de proteção para evitar a propagação do vírus e a auto contaminação. Temos que entender e isso não é facultativo, que a liberdade de cada pessoa termina onde começa a da outra. E se estamos em ambientes de uso coletivo, temos, obrigatoriamente, que cumprir essas regras de convivência. É inadmissível que, após tantos relatos, tantas evidências, tantas perdas preciosas, mesmo recheados de muitas dúvidas e questionamentos, ainda existam pessoas que não saibam conviver socialmente. Enfim, a alegria é tanta, em perceber que, mesmo de forma lenta, a vida retorna, ou melhor dizendo, nós retornamos gradativamente à vida, e não temos o direito, qualquer que seja o motivo, de deixar de viver, viver conscientemente porém, intensamente sem desperdiçar nenhum minuto sequer. Viva a vida!

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