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Nº 5693
Opinião

A carta de Jesualdo

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Por Alberto Rostand Lanverly - presidente da Academia Alagoana de Letras | Edição do dia 23/09/2020 - Matéria atualizada em 23/09/2020 às 06h00

Outro dia, resolvi sair de Maceió. Ao retornar do repouso merecido, o porteiro do edifício me entregou uma carta, imagine de quem? – Jesualdo. A missiva dizia o seguinte:

“Colega, tentei lhe ligar, mas o seu celular sempre esteve fora do ar. Resolvi escrever para contar o que aconteceu comigo recentemente. De uma hora para outra senti forte tontura e vontade de vomitar. Parecia sofrer de uma ressaca interminável. Com a ajuda de Anita, minha esposa, fui ao hospital. Lá chegando, após passar pela triagem, devido à minha idade, acharam que podia estar enfartando. O ambiente parecia girar mais que roda gigante. Nesse meio tempo, uma aprendiz de enfermeira, tentava me implantar um cateter, para coletar sangue e aplicar medicamentos. Depois de muito me picotar, em vão, lembro que ela olhou para mim e falou: - Acho que o senhor não tem sangue! Eu somente respondi: - Pode ser. Finalmente, uma outra profissional mais esclarecida conseguiu instalar a agulha. Exames realizados, verificou-se que o meu mal era labirintite, estando o coração cem por cento. O resto do dia passou, a noite chegou, eu já estava totalmente recuperado quando o médico plantonista liberou o meu retorno para casa. E ao sair, falou: - Jesualdo, daqui a pouquinho uma técnica virá retirar todos esses tubos de seu braço e pode sair. As horas passaram, nada de aparecer alguém. Finalmente, por volta da meia noite, uma jovem me visitou e disse: - O senhor está de alta, volto já para lhe liberar. Eu me sentia muito agoniado com a demora. Cansado, louco para deixar o hospital. Tempo depois, sem ninguém me atender, por conta própria levantei, peguei o suporte de ferro no qual estava pendurado o soro já vazio, ainda conectado em meu braço, e caminhei para a saída. Passei por três portarias, quando finalmente fui abordado por uma profissional que perguntou: - Vai para onde? Respondi: - Estou indo embora. Recebi alta desde às onze da noite, são duas da manhã e ninguém foi retirar essa parafernália. Estou levando tudo comigo e amanhã eu devolvo. Foi um corre-corre dos diabos. No instante apareceram duas enfermeiras para recolher os tubos e finalmente pude deixar o local. O pior de tudo é que, já em casa, notei que durante a confusão tinham esquecido de retirar o coletor periférico que estava enfiado em minha veia e tive que retornar ao hospital para extraí-lo.” Dia seguinte, o amigo ligou para contar mais detalhes e falou: “Durante a estada, me submeti a uma ressonância magnética. Após o exame, a porta estava entreaberta e ouvi os médicos conversando: ‘Olhe que coisa negra! Deveria ser assim? Que horror! Mais manchas!’. Meu mundo caiu. Logo depois, os doutores se aproximaram com a papelada nas mãos e me contaram que tudo estava bem. Pediram desculpas pela demora e disseram que a impressora estava quebrada, soltando tinta preta e manchando os papeis do laudo”. Eu pensei: como acontecem fatos estranhos com o Jesualdo.

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