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Nº 5691
Opinião

Dias ensolarados de final de ano

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Por Alberto Rostand Lanverly - presidente da Academia Alagoana de Letras | Edição do dia 02/12/2020 - Matéria atualizada em 02/12/2020 às 04h00

Outro dia, conversando com Jesualdo, contei que fui comprar um saco de carvão no Mercado da Produção, em Maceió. Espantado com o valor de quarenta e cinco reais cobrado pelo vendedor, questionei o porquê de tamanho aumento. Imediatamente, ele respondeu:

- A culpa é desse presidente, que está dando hum mil e duzentos reais a todo mundo, sem trabalhar. Então os produtos sobem o preço e as pessoas reclamam. Jesualdo, sempre atento a tal ponderação, para minha surpresa, plagiou o pensador e disse: “Amigo, as pessoas perdem a saúde para juntar dinheiro, depois o gastam para recuperar a vitalidade e, por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente de forma a não usufruir nem o hoje e muito menos o amanhã. Respiram como se nunca fossem morrer e padecem como se nunca tivessem vivido”. E foi mais adiante, concluindo: “Usufrua do carvão que você comprou; deguste um bom churrasco e aproveite os dias ensolarados desse final de ano.” Justo Jesualdo, que ao longo de 2020 pintou e bordou juntamente com sua sobrinha Germínia, protagonizando loucas e divertidas aventuras, de um momento para outro me levou a pensar na existência. E imaginando, concluí que nos últimos meses vimos uma avalanche de empresas sucumbirem, teoricamente por causa da pandemia. Alguns segmentos tiveram mesmo um impacto devastador. Mas muitos apenas receberam a pá de cal. Já estavam indo mal, estagnados, ou decaindo. E ao comentar tal raciocínio com Jesualdo, ele foi mais além, falando: “É bem verdade que muitas pessoas foram acometidas do vírus maldito, chegando a falecer; porém outras nem tanto, e mesmo assim se entregaram ao desânimo.

“Muito se deve”, continuou ele, “ao fato de que tanto empreendedores como seres humanos teimaram em não acordar, ou não ter coragem de fazer mudanças necessárias quando ainda dava tempo; permaneceram à espera de o caos se instalar.” Então, complementei dizendo que realmente isso aconteceu, principalmente quando os circunstantes se acomodaram, em uma perigosa zona de conforto e com o decorrer dos tempos se viram perdidos, fossem eles pessoas ou empresas, passando irremediavelmente a curtir uma doença que muito bem poderia ter sido evitada. Aproveitei e contei a Jesualdo conhecer dezenas de exemplos de pessoas que aproveitaram a crise para criar, divulgar, crescer, ao invés de maldizer o cotidiano. Nesse instante, Jesualdo demonstrou certa pressa, afirmou estar indo encontrar sua sobrinha Germínia, pois viajariam em férias, somente retornando a Maceió em Janeiro de 2021, quando então dariam notícias, com certeza mirabolantes. E na despedida, falou: “Rostand, ontem à noite aconteceu uma festa de arromba no apartamento acima de onde moro, não consegui dormir. Hoje, logo cedo, ao reclamar com a dona do evento, perguntei se tinha me ouvido bater no teto com um cabo de vassoura. A mulher sorriu, interrompendo-o: – Não tivemos problema nenhum com as pancadas que afirma ter dado! Não se preocupe, nós estávamos fazendo muito barulho mesmo!

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