L�gica e contradi��o
EDUARDO BOMFIM * O Estado palestino foi invadido e saqueado. Fuzilamentos sumários sucedem-se, jornalistas são expulsos das áreas, quando não são usados como escudos humanos, sob ação do exército israelense, para que não sejam divulgadas cenas, fotos e r
Por | Edição do dia 05/04/2002 - Matéria atualizada em 05/04/2002 às 00h00
EDUARDO BOMFIM * O Estado palestino foi invadido e saqueado. Fuzilamentos sumários sucedem-se, jornalistas são expulsos das áreas, quando não são usados como escudos humanos, sob ação do exército israelense, para que não sejam divulgadas cenas, fotos e reportagens sobre o massacre de um povo. Segmentos da grande mídia internacional e nativa, diante da impossibilidade de louvar a intervenção armada sionista, confundem a opinião pública, declarando que presenciamos uma guerra sem lógica. Cada um dos lados tem suas razões. Dividem ao meio, portanto, uma suposta incoerência no conflito. Em realidade, não existem batalhas desprovidas de interesses estratégicos. Elas se encontram acima e para além das mortes, dores e estampidos. Algumas são justas e outras hediondas. Esquecem, propositadamente, as verdadeiras origens da sangrenta condição a que chegou o Oriente Médio. O Estado Palestino já foi reconhecido, oficialmente, através de duas resoluções das Nações Unidas. Vários acordos de paz já foram negociados. O mais importante deles, assinado entre Arafat e Ytizhak Rabin em 1993. Este último, assassinado posteriormente pela extrema direita de Israel. A mesma que se encontra atualmente no poder sob o comando de Ariel Sharon. O que temos é a invasão de um país, o Estado da Palestina, por tropas de outra nação, o Estado de Israel. Uma luta tremendamente desigual. Um país riquíssimo. Com um poderoso e sofisticado exército, ponta de lança dos interesses dos EUA na região. Sharon, conhecido terrorista em épocas passadas, promove o desespero e a tentativa de humilhação de um povo que lutou tenazmente pelo direito de possuir uma pátria e um pedaço de chão para morar. Aniquilam-se as estruturas governamentais do Estado Palestino e ainda por cima encarceram e mantêm sob constante ameaça de fuzilamento o seu presidente eleito legitimamente pelo voto popular. O maior fomentador de ataque suicidas por parte dos palestinos é sua martirização e a incapacidade de responder com armas convencionais ao estupro a que é submetido. Toma-se de assalto uma nação. As suas incipientes organizações estatais são praticamente destruídas. Seqüestra-se o presidente e faz-se dele refém. Bombardeia-se este mesmo país com canhões, mísseis de última geração, metralhadoras pesadas, aviões poderosos guiados através de satélites. Invadem-se as ruas de suas cidades com tanques. A ordem é primeiro atirar e depois perguntar. E a máxima: Todo cidadão é um inimigo em potencial. Tudo isto é tolerado, racional. Só é condenável a resposta pela imolação desesperada ou fanatizada do jovem bomba. Qual a lógica deste raciocínio? Concordo com a análise do colunista Clóvis Rossi da Folha de São Paulo: todos estão vendo o sangue correr, falam mas não agem, o que é pior que o silêncio. Ironia do destino. Os nazistas foram condenados em Nuremberg pelos crimes cometidos, inclusive contra os judeus. Este mesmo povo deveria olhar para o seu holocausto e refletir sobre o que estão fazendo em seu nome. (*) É ADVOGADO