Opinião
AS RESPONSABILIDADES PELA TRAGÉDIA
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A cerimônia de posse de Joe Biden transcorreu de forma pacífica, na maior e mais tradicional democracia mundial. Submeteu-se, todavia, a inusitado e gigantesco aparato de segurança, numa Washington paramentada como uma praça de guerra, ameaçada por terroristas internos da extrema-direita que, uma semana antes, invadiram o Capitólio (com um saldo de 5 mortos), o palco da cerimônia que, exemplarmente, obedeceu as medidas preconizadas pelas autoridades sanitárias para a pandemia de Covid-19.
Na herança deixada pelo extremista derrotado pelas urnas, Trump, constam mais de 410 mil mortos pela pandemia e um país dividido pelo ódio, a polarização e a violência, por ele incentivados, e por sua condução negacionista da ciência. No discurso, Biden priorizou o combate acirrado à pandemia, a união, a defesa obstinada da verdade, o combate à desinformação, a distorção, a manipulação dos fatos e às fake news, forma pela qual Trump se elegeu, governou e é copiada por governos afinados a essa tendência criminosa. Biden ressaltou que seu governo deverá ser julgado pelo que fará ou não fará. Aquela cerimônia coincidiu com o início da vacinação em Alagoas, com as limitadas doses destinadas ao estado sendo aplicadas corretamente em 1/3 dos profissionais da saúde da linha de frente, idosos reclusos em casas de apoio e indígenas. Em todos os estados e países pelo mundo, os governadores, presidentes e primeiros ministros, compareceram, celebrando o início dessa vacinação. A exceção mundial foi o presidente Jair Bolsonaro, o único dos governantes mundiais que menosprezou esse momento, refugiou-se em ressentimentos e rancores pessoais e não o compartilhou com nenhum profissional de saúde, nem com nenhum vacinado. Isso ficará na história.
No Brasil, as imensas dificuldades para a continuidade da vacinação enfrentam óbvios e previsíveis óbices, sendo a falta de vacinas e de insumos (IFA) e a provável interrupção da vacinação uma consequência direta e inevitável de como a pandemia foi tratada pelo governo federal: populismo, negacionismo, propaganda e defesa oficial do charlatanismo; menosprezo e sabotagem às vacinas. Caso os ex-ministros Mandetta ou Teich estivessem à frente do Ministério da Saúde, teriam encomendado e comprado antecipadamente as vacinas em quantidade suficiente. Sabiam que as vacinas e seus insumos seriam disputadas selvagemente, ficariam inevitável e extremamente raras e caras com o avanço da pandemia, forma óbvia e ululante do mercado agir.
A responsabilidade pela inépcia do general Pazuello em exercer função para a qual não estava minimamente preparado, a responsabilidade por nomear um chanceler brucutu que (apoiado pelos filhos do capitão) difama e agride repetidamente a China e a Índia, os dois maiores fornecedores de vacinas e insumos, é de quem os nomeou, o presidente da República, que assim o fez movido por negligência e critérios de submissão absoluta (general Pazuello) e alinhamento ideológico radical (o antidiplomata Ernesto Araújo). O colapso anunciado e já exposto em Manaus e que ameaça se estender, será analisado tendo como base a legislação do SUS a partir da Constituição Federal, segundo a qual quadros de EPIDEMIAS e PANDEMIAS são reservados à competência da União, por razões sanitárias, de segurança pública, orçamentária etc. Somando-o aos muitos crimes de Responsabilidade cometidos, seria motivo mais do que suficiente para impeachment. Contudo, a possibilidade maior é ser aproveitado por aquele conhecido grupo político que sempre fatura e se beneficia das grandes crises nacionais para proveitos pessoais. Esse capítulo da história ainda vai ser escrito.