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Opinião

Onde está o controle?

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Por Caroline Pestana. escritora (@carolinepestanaoficial) | Edição do dia 20/02/2021 - Matéria atualizada em 20/02/2021 às 04h00

Todo mundo já passou por isso. Aquele programa chato, estridente, aversivo, brota na tela da televisão e nos vemos em guerra com o sofá na busca pelo controle. As mãos se enfiam pelas bordas e almofadas, tateando o tudo e encontrando o nada. Reviram-se almofadas, mantas, objetos, cai até mesmo um copo, e a correria para pegar um pano e enxugar o chão – antes que manche! – suspende, por pouco tempo, a caça.

Então olhamos o chão, deitados, nos esticamos em posições antes deixadas à infância; puxamos o sofá, retornamos, sufocados pela frustração de não encontrar o maldito controle! E quando desistimos, quando suspiramos, cansados, barrigas infladas, ombros caídos, olhamos ao lado e lá está ele, no primeiro lugar em que olhamos, como se magicamente retornasse do além apenas para zombar de nossa cegueira. É curioso que a gente tateie e se mova e se contorça e se enfureça por não aceitar que o controle, que estava logo ali, o tempo todo, de repente escolha desaparecer. Não, é inaceitável. Se deixamos o controle em devido lugar, ele tem a obrigação de ali permanecer, é assim que funciona o universo, esse é o nosso poder como seres inteligentes e controladores. Nós é que temos o controle, não os objetos. Então como pode o controle sumir? Pior ainda quando moramos sozinhos. Porque quem divide o espaço também sofre por dividir o controle. Então soma-se aos contorcionismos vasculhantes uma gritaria, uma inquisição, um QUEM PEGOU O CONTROLE QUE ESTAVA AQUI? E os companheiros ou filhos, especialmente filhos, que juram melindrosos não terem chegado perto nem sequer visto o pequeno aparelho preto, esses o fazem apenas para nos irritar. E quando encontramos o controle podemos, ainda, dizer que não havíamos deixado ali, convencendo a nós mesmos de que de fato não perdemos o controle, alguém o tirou de nós. Até mesmo porque é muito mais confortável colocar a culpa no outro. Menos assustador, até. O que causa os pesadelos daqueles que moram sozinhos, como eu. Quem mexeu no controle então? Ele por acaso criou pernas e saiu por aí, ou podemos partir para teorias de abdução e aparições fantasmas que vão impedir o sono tranquilo de que tanto preciso? Com ou sem culpados, eventualmente encontraremos o controle, mudaremos de canal e seguiremos nossas vidas. Poderíamos ter ido até a televisão e tirado do canal por lá, não? Há quem o faça – pessoas mais estáveis, com certeza. Mas não eu. Afinal a luta não é contra o programa que estava passando, o comercial chato, não, nada tem a ver com a programação. A luta é com - e pelo - controle! Não é sobre encontrar um meio de apertar aqueles botões. É sobre saber que pode apertá-los.

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