app-icon

Baixe o nosso app Gazeta de Alagoas de graça!

Baixar
Nº 0
Opinião

SEM PIZZAS OU LIMONADAS

.

Por Marcos Davi Melo. médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 17/04/2021 - Matéria atualizada em 17/04/2021 às 04h00

Instala-se a CPI da Covid-19 no Senado em atendimento a dispositivo constitucional que permite à minoria exercer o seu indispensável papel de fiscalização das atividades do Executivo e em obediência ao artigo 58, inciso 3 da Constituição. Ela objetiva a apuração das causas pelas quais o Brasil chegou à trágica e ainda não finalizada situação dessa pandemia. Abraham Lincoln, ao adentrar à Guerra de Secessão, registrou : “Você não consegue escapar da responsabilidade de amanhã esquivando-se dela hoje”. Ela é uma exigência da sociedade: apurar as responsabilidades dessa tragédia é o mínimo que se pode fazer para atender ao clamor nacional. É inadmissível que se postergue o início dos trabalhos da CPI. Existem inúmeras providências que podem ser executadas remotamente e de forma semipresencial, como ocorre nas comissões do Congresso.

As metas da CPI poderão até ultrapassar a apuração dessas responsabilidades: não é inexequível que por efeito rebote, ela possa sustar o negacionismo fomentado pelo palácio do Planalto; caso o governo federal contenha a propagação de desinformações e de prescrição de cloroquina e ivermectina, já estarão se salvando milhares de vidas. As UTIs dos hospitais públicos continuam cheias, metade de seus pacientes tem abaixo de 50 anos, a letalidade continua altíssima, e muitos desses pacientes chegam muito atrasados e clinicamente críticos aos hospitais, pelo uso domiciliar prolongado desse “tratamento precoce”. Pelo menos 47% deles não conseguem vagas em UTIs e, sem assistência apropriada dos intensivistas, marcham inevitavelmente para o óbito. Além da falta de vacinas, temos a falta de kits de intubação a deixar os hospitais e profissionais de saúde desesperados. Isso não é Medicina, é tortura.

Abert Einstein, quando assinou a Carta Humanitária contrária ao uso da bomba atômica no Japão, disse: “Temos que fazer o melhor que podemos. Esta é a nossa responsabilidade humana”. É inadiável comprovar que foi feito tudo o que se deveria e poderia para evitar essa mortalidade da pandemia. Precisamos de mudança de rumos na política negacionista do governo federal. Precisamos de uma coordenação nacional competente para a pandemia. Os presidentes da Câmara e do Senado tentam adquirir vacinas através da ONU, o que seria papel do Executivo, mas o presidente da República desprezou a função de coordenação nacional dos entes federados e só fez hostilizá-los. A população não pode pagar com mais vidas, impunemente. Seria crueldade pura chegar a 500 mil ou 600 mil óbitos sem a intervenção efetiva dos demais Poderes, com base na Constituição. Temos menos de 3% da população mundial e mais de 30 % das mortes pela pandemia. Uma CPI focada rigorosamente na vida e na dignidade humanas pode mostrar ao mundo que o Brasil não é uma República de Bananas apodrecidas por pizzas ou limonadas.

Mais matérias
desta edição