Opinião
A Biblioteca
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No Dia do Mundial do Livro, 23 de abril, é comum fazer-se loas à sua existência. Neste ano, a atenção vai para o seu lar: A Biblioteca – acredito ser justa, a época respalda.
A Grécia é o berço do nome. Vem de biblion (livro) e theke (depósito). No entanto, o primeiro depósito de livros, a biblioteca, surgiu em Nínive, região do Iraque, através das ações do escriba e Rei Assurbanípal, no século VII A. C., conforme demonstra Martin Puchner no livro O Mundo da Escrita, de sua autoria. A biblioteca mais famosa da antiguidade foi a de Alexandria. No mundo moderno, são muitas, e várias assombram pelas raridades e riquezas das obras guardadas, pela quantidade de itens e pela beleza das instalações, como as do Vaticano e do Congresso dos EUA e a Nacional da França. No Brasil, temos a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiros, com função básica e histórica no fomento da cultura. É considerada uma referência internacional.
Há outras nessa categoria, além das mais usuais, com finalidades específicas, públicas e privadas, espalhadas pelo território. Uma biblioteca pode ter diversas feições, per se: É a academia da mente humana; o socorro permanente das circunstâncias da vida; o obstáculo da ignorância; o lugar onde verdadeiramente vamos encontrar os verdadeiros amigos, os livros. Independente de polêmicas, podemos até levar em conta que a biblioteca é o único ambiente capaz de despertar, em nós, os cenários de Dante: Inferno, Purgatório e Paraíso. Certa feita, Alberto Einstein disse, objetivamente, que “a única coisa de que você realmente precisa saber é onde fica a biblioteca”. Por outro lado, Jorge Luis Borges declarou, profeticamente: “Eu sempre imaginei que o paraíso seria uma espécie de biblioteca”. Já Umberto Eco foi mais longe: “As bibliotecas podem tomar o lugar de Deus”. Numa oportunidade dessas, certamente, Santa Teresa D`Ávila afirmaria que a biblioteca é o “cantinho de Deus”, como o mosteiro é o de oração, para Ele. E ela, a biblioteca, também é um espaço de meditação, silenciosa, na leitura de seus livros, para elevar o conhecimento, terreno, da alma. Estimado leitor, o mais terno, neste momento, é falarmos aqui sobre nossa biblioteca, aquela que nos serve no aconchego da casa em que vivemos. Não importa o modo como foi possível formar e montar, no lugarzinho que seja, com visão espontânea, sem preocupação com a diversidade e extensão bibliográfica.
O importante é tê-la, sabedor de que toda biblioteca está aberta aos livros, e de que todo livro merece uma biblioteca. A sabedoria é um conceito tênue. O essencial é que cada um alimente, cuide e desfrute da sua biblioteca, de acordo com as concepções que melhor lhe convier. Não tem que se preocupar com comparações, porque “toda comparação é odiosa”, como falou Dom Quixote, possuidor de uma das mais famosas bibliotecas da literatura. Por fim, merece registro o valoroso trabalho da judia Dita kraus (nome de solteira Edit Polachová, ainda viva, com 92 anos de idade.), a “bibliotecária de Auschwitz”, que, aos 14 anos, num campo de concentração, era a responsável por uma biblioteca clandestina, fora das vistas dos nazis, com “mais ou menos doze livros”. Tratava-se de uma coleção feita por acaso. Entre esses livros, a Breve História do Mundo de H. G. Wells e um atlas com mapas. De modo que, a cada dia, não faltavam prisioneiros, entre os milhares, querendo o empréstimo deles.