Inclus�o racial
Tabu poderoso no Brasil, a questão racial sempre foi empurrada para debaixo do tapete. Como era (e é) evidente a distinção entre o tipo de racismo praticado nos Estados Unidos e no Brasil, e o acintoso sistema de segregação e preconceito americano contra
Por | Edição do dia 20/01/2004 - Matéria atualizada em 20/01/2004 às 00h00
Tabu poderoso no Brasil, a questão racial sempre foi empurrada para debaixo do tapete. Como era (e é) evidente a distinção entre o tipo de racismo praticado nos Estados Unidos e no Brasil, e o acintoso sistema de segregação e preconceito americano contra os negros chama muito a atenção, se apressou para retirar e divulgar a falsa constatação de que não existia racismo no Brasil. Gilberto Freire, pioneiro no estudo das questões da formação da sociedade brasileira e suas características raciais, apostou corretamente na miscigenação como perfil de nossa população e valorizou essa capacidade de mistura como o elemento formador de uma característica racial nacional própria, positiva. E acertou. Daí concluir pela inexistência do racismo e da existência de uma democracia racial no Brasil é um erro. Mas há melhoras, raças à luta aberta contra a discriminação. Mesmo antes da polêmica implantação das cotas nas universidades, a participação de negros e pardos nas instituições de ensino superior apresenta um bom avanço. Nos últimos quatro anos, a diversidade racial tem melhorado em todas as áreas estudadas através do Provão. Entre 2000 e 2003, o número de formandos que se declararam negros cresceu de 15,7% para 20,7% em todas as 18 áreas avaliadas. As declarações de pardos passaram, no mesmo período, de 13,5% para 17,8%. É importante salientar que a pesquisa é realizada entre os que estão de saída na universidade e não nos que entram (o que poderia representar uma forçada de barra para ocupar as cotas). Esse avanço, de qualquer forma, deve servir de estímulo para a intensificação das políticas de inclusão racial e social. E, mais importante ainda, não se pode reduzir a questão da discriminação racial a negros e pardos. Os índios, entre os discriminados, são os mais sofridos e nem nas cotas se lembram deles. Há quem ache sociologicamente correto confiná-los na opção natural de viverem na idade da pedra, o que pode representar a mais cruel das formas de exclusão. Os resultados positivos, embora lentos, do esforço de inclusão de negros e pardos devem ser expandidos para os demais segmentos de excluídos, e aí, destacadamente os índios e seus remanescentes devem ser beneficiados.