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Nº 5797
Opinião

Peso brutal

Nas imediações da Idade Média, foi acentuada uma antiga prática: arrochar o povo, espremendo-lhe contribuições compulsórias para o financiamento de projetos do poder constituído. Motivo recorrente desses apertos foram as cruzadas. O desejo era “libertar”

Por | Edição do dia 12/02/2004 - Matéria atualizada em 12/02/2004 às 00h00

Nas imediações da Idade Média, foi acentuada uma antiga prática: arrochar o povo, espremendo-lhe contribuições compulsórias para o financiamento de projetos do poder constituído. Motivo recorrente desses apertos foram as cruzadas. O desejo era “libertar” as terras santas e, para tal fito, o povo era escorchado sem pena. E as cruzadas iam, barbarizavam, ganhavam e depois perdiam as terras santas; e novas cruzadas eram organizadas; e novos impostos eram atirados aos ombros dos contribuintes. As cruzadas hoje, no Brasil, são muitas e terras santas a libertar não faltam. E como na Idade Média, arrocham-se os contribuintes a cada nova jornada, mesmo que a luta não dê em nada. A carga tributária brasileira dos dias de hoje tem o peso medieval. Corresponde a cerca de 40% do Produto Interno Bruto (na Índia de hoje, país em melhores condições de desenvolvimento, esse índice é de 10%). Entre taxas, impostos, contribuições e outras denominações perfazem 68 tributos, muitos dos quais usando idênticas justificativas e “fatos geradores”. Há quem argumente que em determinados países mais desenvolvidos, a conta também é alta para o contribuinte. Quando citam os Estados Unidos, ou Inglaterra, como exemplo de peso tributário, sempre se esquecem de acrescentar a extensão e a qualidade dos serviços públicos prestados nesses países. A comparação mais exata e sempre repetida é de que “o Brasil cobra impostos como o primeiro mundo e devolve serviços como o quarto mundo”. Um caso concreto, que diz respeito ao bolso de toda a população, está na participação dos impostos no preço final da gasolina. Segundo a Petrobras, mais da metade desse preço corresponde a impostos, que são justificados como captação de recursos para o financiamento de outros combustíveis “mais populares”, como gás de cozinha e diesel. Será que acham barato o preço desses “combustíveis mais populares?”. Como na Idade Média, a justificativa é a conquista e preservação de terras santas. Santidades difíceis de explicar e entender, penosas para pagar.

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