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Nº 5759
Opinião

Sucessos televisivos

JOSÉ MEDEIROS * Um diálogo presenciado por mim: – Ah! Eu gostei que a Antonela fosse para o paredão; é uma chata, cheia de lero-lero. E a outra garota: – Juliana, essa não mereceu, torço para que ela continue na casa do Big Brother. O pior que poderá a

Por | Edição do dia 18/02/2004 - Matéria atualizada em 18/02/2004 às 00h00

JOSÉ MEDEIROS * Um diálogo presenciado por mim: – Ah! Eu gostei que a Antonela fosse para o paredão; é uma chata, cheia de lero-lero. E a outra garota: – Juliana, essa não mereceu, torço para que ela continue na casa do Big Brother. O pior que poderá acontecer será o Rogério ou a Cida serem indicados para o paredão! Aí, a Casa perde a graça. E eu, ali, ao lado, ouvindo essa conversa entre duas crianças, uma de 8 e outra de 11 anos, sem conseguir identificar esses personagens, que para elas pareciam tão familiares. Arrisco-me a perguntar: – Quem são essas pessoas de quem vocês estão falando? Olharam-me com espanto. – Você não assiste o Big Brother Brasil? É o sucesso do momento. Você está por fora... Explicar que  não nutro simpatias pelos reality shows foi resposta incompreensível para elas.  As peripécias desses participantes são motivos de conversas nos locais de trabalho, nas salas de visitas e nas cozinhas. Por outro lado, considerar que se trata de invasão da privacidade de pessoas que durante meses se confinam numa mansão, também não parece afirmação ponderável. Os candidatos sabem que serão observados por câmeras, microfones e pelos espectadores, onde quer que estejam na casa. Privacidade? Os que consideram que isso seja invasão de privacidade, talvez tenham em mente a privacidade de nossos lares, de nosso ambiente social. A privacidade deles é diferente: é uma situação intermediária entre o que é público e o que é privado; a câmera indiscreta está aberta a todo aquele que queira observar. Ainda bem que não os obrigam a comer insetos repugnantes ou a pular de aviões, cenas que ocorrem em outras séries televisivas. Conversei com numerosas pessoas sobre esse assunto. Muitos dos rapazes e moças consultados gostariam de participar de um desses programas. Os motivos alegados são muitos: virariam celebridades, seriam conhecidos em todo o país, poderiam tornar-se ricos de um dia para o outro e, ainda, se divertiriam bastante com as situações criadas. Entretanto, algumas jovens responderam que não aceitariam, ora por motivos religiosos, ora morais e de personalidade. Consideram que se trata de invasão de privacidade. É um assunto controverso. Ninguém desconhece a extraordinária influência que a televisão exerce sobre a vida das pessoas. Não impõe, predispõe. Influencia sobre o falar e o pensar, induz comportamentos, hábitos e desempenhos. Em relação à privacidade, os pais e mães ensinam aos filhos que não é correto olhar intimidades alheias pelo buraco da fechadura. Não muito longe, na telinha, estão diante da invasão tecnológica da privacidade dos participantes desses shows. Um dilema para os pais: deixar os garotos à deriva? Ou se tornarem chatos por estabelecerem limites? Talvez o problema não seja da televisão, que alcançou altos níveis de qualidade técnica, e sim da sociedade como um todo, que não luta por mudanças, por mais conteúdos culturais e educacionais. (*) É MÉDICO E EX-SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE

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