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Nº 5905
Opinião

Imagens da vida

GILBERTO DE MACEDO * Imaginar é criar na mente figuras emblemáticas representativas de algo que atende a um desejo íntimo. A imagem é um símbolo rico de significados, uma figura dotada de forma e de substância. A substância é dada pelos sentimentos, a

Por | Edição do dia 19/02/2004 - Matéria atualizada em 19/02/2004 às 00h00

GILBERTO DE MACEDO * Imaginar é criar na mente figuras emblemáticas representativas de algo que atende a um desejo íntimo. A imagem é um símbolo rico de significados, uma figura dotada de forma e de substância. A substância é dada pelos sentimentos, a forma pela idéia. Uma realidade interna, na mente da pessoa. Portanto é vista pela própria pessoa como se fosse real e com determinado sentido. Atende a uma necessidade psicoafetiva, cuja origem está nos sentimentos. E aí, tão importante para o curso da vida que o grande gênio da ciência contemporânea, Einstein, que viveu perscrutando a objetividade da matéria física, instrumentado pela neutralidade dos números matemáticos, tenha podido concluir (“Como vejo o mundo”, página 12): “É o sentimento que suscita a beleza e a verdade, cria a arte e a ciência.” Assim é que se há de cuidar da criação de imagens da vida, a respeito de si mesmo, dos outros, dos seres vivos em geral, dos objetos de estimação, enfim de toda a existência. Desse modo é que a imaginação está na base de toda criatividade. A imagem resultante do conjunto de representações, da maneira como sentimos e entendemos o mundo. Assim, expressa o mundo verdadeiro, próprio de cada um. Representar já é recriar. É que somos sujeitos e, como tais, dotados da capacidade de criar imagens, uma faculdade de nossa liberdade. Daí a importância das imagens de vida, das profundas conseqüências para a adaptação existencial. Tanto que, como diz Theodor Wanke: “A vida não é para se explicar, nem compreender, mas para se imaginar”. Daí porque aprender a imaginar bem é indispensável para se viver bem. Já que não se pode modificar a realidade material externa onde estamos contidos, é preciso que possamos superar tais obstáculos indesejados, construindo o nosso universo. É mesmo um imperativo da condição humana, como já aconselhava o filósofo Sêneca, dizendo: “Enquanto viver, tem de aprender a arte de viver”. Mais que isso. Porque somos dotados de qualidades criativas e liberdade para distinguir e agir, donde há disponibilidade para tomar iniciativas favorecedoras, eis que procurar boas imagens é uma possibilidade real, pois, como diz Gabriel D’Annuzio: “É preciso que a vida de um homem inteligente seja produzida por ele”. Saber imaginar bem reflete sabedoria. Permite superar os estados de ânimo negativos causados pelos agravos da existência com suas frustrações. Sobrepor-se enobrece a vida. Enriquece a pessoa no seu valor existencial. E quem é pobre de imaginação vê a vida estreita, obscura, fechada, sem saída. Daí que é benefício fazer-se a imagem positiva e agradável, logo a respeito de si mesmo, do seu corpo, de sua alma, de suas obras. Em seguida, a respeito do mundo geral, afastando as retratações desagradáveis. É a luta pelo bem-estar e pela felicidade que nasce e reside dentro de cada um, como lembra André Maurois: “A felicidade é uma flor que não é preciso colher”. Pois quando existe é só na intimidade da pessoa. Atendamos, pois, aos estímulos dos sentimentos, e cultivemos as belas imagens da vida. É da liberdade do homem essa capacidade de criar imagens. Realizá-las através da beleza engrandece a condição humana. Ou se imagine, pois, à vida inteira. (*) É MÉDICO

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