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Nº 5759
Opinião

Sem cora��o...

GILBERTO DE MACEDO * A civilização tecnológica, em seu estágio atual, em vez de obedecer ao sentido da evolução das espécies, que chegou à hominização e à humanização, levou ao oposto, isto é, a involução humanística, colocando no topo, em vez do Homem,

Por | Edição do dia 10/04/2002 - Matéria atualizada em 10/04/2002 às 00h00

GILBERTO DE MACEDO * A civilização tecnológica, em seu estágio atual, em vez de obedecer ao sentido da evolução das espécies, que chegou à hominização e à humanização, levou ao oposto, isto é, a involução humanística, colocando no topo, em vez do Homem, a máquina. Neste aspecto, em vez de progresso, decadência. E não foi aleatoriamente, nem por inadvertência. Estu-diosos de vários campos sempre chamavam a atenção para esse contraste. Sábios, cientistas, filósofos chamaram diante desse fato. Há bastante anos, Oswaldo Spengler escreveu notável obra de grande repercussão, intitulada precisamente “A Decadência do Occidemte”. Noutro ângulo, resultado de estudos individuais na psicanálise, Freud escreveu “A Civilização e seus Descontentes”. Essas diferentes observações, de natureza filosófica no primeiro, e de caráter clínico, no segundo, chegaram a uma conclusão idêntica: os males da civilização. É que esta inverteu o processo ao desatender aos valores humanos, em vez de ir para a frente, retroagiu, voltando-se para trás. A civilização desdenhou, desfigurando, o coração dos homens. Fragmentou, inferiorizando-o, reduzindo o mesmo a um órgão apenas fisiológico, quando, no plano humano, o coração é complexo e riquíssimo de simbolismos e significado existencial. Sem isso, hei-lo que, em sua dimensão verdadeiramente humana, priva a vida pessoal de sua maior riqueza: os belos sentimentos, a pureza dos afetos, o impulso da solidariedade e a tendência à fraternidade, a bondade, a amizade e, acima de tudo, a capacidade de amar. É do simbolismo. O Amor é ato do coração. Sem este, em sua plenitude, não há amor, mas sua máscara, em termos de ilusão, conveniência, negócio; em vez de autenticidade, sinceridade, verdade, fidelidade, ocorreria, respectivamente, fingimento, mentira, traição, enfim, corrupção do sentimento. Daí a decepção e a tristeza das pessoas que conservaram o coração íntegro, apesar dos maus tempos, porque felizmente nem todos se degradaram. Conservam salva a condição humana nas atitudes íntimas e nos comportamentos externos. Lembram-se da milenar lição de Confúcio, quando dizia: “Aonde quer que vás leva o teu coração”, pois que acrescenta: “Por muito longe que o espírito alcance, nunca irá tão longe como o coração.” Significa dizer que seja inteiramente humano em todas as circunstâncias. Pois só os brutos são insensíveis, sem coração, indiferentes e odientos. Os brutos não amam. Sem o coração tem-se o homem-máquina, peça neutra da engrenagem mecânica em que foi aviltada a sociedade toda voltada para os interesses materiais do lucro financeiro conforme determina o poder. “Nossa vida física, nossa vida social, costumes, hábitos, saber mundano, filosofia, religião e até nossos conhecimentos casuais estão proclamando para nós: É preciso renunciar.” Renunciar diante dessa mania de egoísmo. Renunciar nas origens mesmo do desejo de um amor impossível. Renunciar no plano da afetividade, não é, pois, sina de fraqueza, desmerecimento, fuga, mas, ao contrário, é coragem, altruísmo, dedicação. É ato de belo amor purificado pelo sofrimento da perda. Respeitemos, pois, lamentando, sinceramente, essa renúncia, que é um adeus feito de lágrimas silenciosas e solitárias. (*) É MÉDICO

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