Opinião
A “Morte de Ivan Ilitch” nos dias pandêmicos
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O presente texto retrata ensinamentos de vida por um clássico da literatura russa de compreensão contemporânea. A leitura desse livro e as percepções dos laços entre seus personagens trazem reflexões importantes para quem adoece e, sobretudo, para aqueles que estão em seu entorno, seja como cônjuge, filho, irmão, amigo ou colega de trabalho.
O enredo inicia-se com a notícia da morte de Ivan Ilitch em seu ciclo de convivência, e, a partir de uma abordagem até irônica dos valores entre seus amigos, evidenciando o clima de expectativa e ansiedade pela sucessão de seu cargo de juiz de direito, o autor leva-nos a pensar em como temos vivido, no que é essencial, pela inútil alimentação das futilidades e pela descoberta do sentido maior aqui na terra: o amor. O amor foi (re)descoberto e (res)significado durante um processo doloroso de Ivan Ilitch. Sem um diagnóstico conclusivo de seu estado de saúde e com as alternativas de tratamento superadas, ele sofria diante de seu confinamento, com seus próprios medos, seus gritos de dor e angústia. Quando tudo e todos estavam se distanciando pouco a pouco, inclusive por sua vontade inconsciente de se isolar, o sentimento de solidariedade de seu empregado fez surgir entre eles uma amizade sem interesses, sincera e forte: o momento mais reconfortante desses seus últimos meses definhando. De modo paradoxal a todo sofrimento, renasceram no seu íntimo as lembranças de sua infância. As boas recordações fizeram-no não só questionar, mas também encontrar respostas - algo que lhe fez amadurecer e compreender melhor sua passagem por este mundo. Seu amadurecimento unido à força da espiritualidade, após seu ato de confissão, trouxe-lhe a paz que necessitava para descansar o seu corpo e repousar eternamente a sua alma. Com essa retórica, a literatura nos aproxima da realidade de maneira serena e contundente, no propósito de autoconhecimento e de que possamos desacelerar para ajeitarmos nossa estrada e enfim seguir em frente.
