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Nº 5759
Opinião

A aliança e o labirinto

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Por Marcos Davi Melo - médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 01/05/2021 - Matéria atualizada em 01/05/2021 às 04h00

Existe a Aliança sagrada do cristianismo e as alianças humanas, que também precisam ser respeitadas. O general Severiano da Fonseca, nascido em Alagoas, era médico, escritor, historiador e diplomata. Fez a campanha da Tríplice Aliança combatendo os paraguaios e ainda as epidemias de varíola e cólera. Para superar a precariedade do estado sanitário da tropa, aplicou-se incansavelmente contra as doenças infectocontagiosas que as ameaçavam mais do que os mosquetões paraguaios. Portou-se sempre com zelo, inteligência e humanitarismo. Homem culto e preparado, a sua aliança com a ciência o tornou o Patrono do Serviço de Saúde do Exército. Nosso tradicional Hospital Sanatório Severiano da Fonseca homenageia-o, adotando o seu nome.

A busca por melhores condições de vida para o ser humano estimulou luminares como Severiano da Fonseca, que, mesmo em campo de batalha, compreendia a importância da ciência como seu sustentáculo. Uma luta intérmina, marcada exemplarmente no ano de 1647, quando Anton Leeuwenhoek pegou uá microscópio caseiro rústico e o focou em uma gota d´agua, onde viu milhares de criaturas se mexendo. Era a primeira vez na História que um olho humano via um micro-organismo. Iniciava-se a Revolução Científica, tão importante como a Revolução Agrícola e a Revolução Cognitiva. Previamente, na alta Idade Média já se sabia que as doenças como a varíola se transmitiam por contato direto entre as pessoas, nas grandes pestes já se isolavam os doentes e se usavam máscaras rudimentares. Nos surtos de cólera que devastaram Londres, em 1854, o médico John Snow alertou que ela proliferava nas concentrações humanas das comunidades desfavorecidas. A Revolução Científica continuou pontuando com Jenner, em 1867, ao inventar a primeira vacina, e culminou com a 1ª bomba atômica detonada no Novo México, em 1943. A Revolução Científica formalizou a sua aliança com a Renascença e o ressurgimento das artes plásticas, em especial, como também com o conhecimento filosófico, consolidando desde então uma aliança indispensável e indissociável em busca de melhores condições de vida para o ser humano. A aliança entre a ciência, as artes e o conhecimento viceja nas democracias e definha nos regimes autoritários. O Exército Nacional consubstanciou uma aliança histórica com a ciência, como constatado na Guerra da Vacina. É-lhe inadmissível que um general da ativa, Pazuello, deboche do uso das máscaras publicamente e seja o operador do desastre no combate à Covid-19, com suas mais de 400 mil mortes, e outro general, o idoso Luiz Ramos, precise tomar a vacina contra a doença às escondidas para não desagradar o seu chefe. Os generais adentraram um labirinto escuro. O Exército precisa distanciar-se dele e da política partidária, reaproximar-se da ciência e da sociedade civil para reatar essa aliança republicana.

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