A bela liturgia
DOM FERNANDO IÓRIO * O Pequeno Príncipe, de Saint-Éxupéry, ensina-nos que o essencial é invisível aos olhos. O livro é a história fantasiosa de um extraordinário menino que morava numa estrela. Vivia desprovido de tudo. De nada dispunha, a não ser de
Por | Edição do dia 16/03/2004 - Matéria atualizada em 16/03/2004 às 00h00
DOM FERNANDO IÓRIO * O Pequeno Príncipe, de Saint-Éxupéry, ensina-nos que o essencial é invisível aos olhos. O livro é a história fantasiosa de um extraordinário menino que morava numa estrela. Vivia desprovido de tudo. De nada dispunha, a não ser de imensa árvore baobá e de, mais ou menos, dois vulcões. Mas não deixava de ser delicado, amável e sensível. Deleitava-se com os pores-do-sol, que eram tantos no seu pequeno planeta. Certo dia, descobriu aquela sementinha que começava a crescer e transformava-se numa rosa. Observou, atentamente, o seu florescer, o seu florir. Nunca vira ele um botão de rosa tornar-se rosa vaidosa, levando-o à loucura. No final, chegou ele à conclusão de que não era fácil entender toda a rosa. Resolveu, assim, deixá-la e voar para outros planetas, à procura da sabedoria sobre o amor, a vida e as pessoas. Deparou-se, então, com coisas estranhas. No planeta Terra, encontrou um animal bem estranho e muito sabido uma raposa que dele se aproxima e pede-lhe: - Cative-me. Não sei o que isto quer dizer responde-lhe o principezinho. Cativar é penetrar a vida do outro, é interessar-se pelo outro diz-lhe a raposa. Mas, se eu a cativar, não posso ficar muito tempo com você. Tenho que ir embora fala, sinceramente, o principezinho. Que pena, se você for embora... eu vou chorar não se contém a raposa. Por que, então, querer que a cative, se isso vai magoá-la? Por causa da cor dos trigais diz ela. E continua: Você tem cabelos cor de ouro... após você me cativar, ao olhar o dourado dos trigais, lembrar-me-ei de seus cabelos. E vou gostar de ouvir o vento no trigo. Assim, começou o ritual do cativar que é bela liturgia de um conquistar o outro. (*) É BISPO DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS