Opinião
DA TRAGÉDIA AO ACERTO DE CONTAS
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É positiva a anunciada intenção do prefeito JHC de levar o presidente Bolsonaro aos bairros aniquilados pela mineração da Braskem, já que as digitais do governo da União estão também presentes nessa cronologia de destruição.
Caso ocorra a visita, pode ajudar a atrair a atenção da opinião pública e da classe política para uma tragédia que só poderia ser ofuscada por outra de magnitude incomparável: o horror da pandemia e seu rastro mortífero. O Serviço Geológico do Brasil, num relatório conclusivo, em 2019, comprovou que as minas de extração de sal produziram cavernas tenebrosas e desestabilizaram o subsolo, em plena área urbana de Maceió. Desde então, não mais cessou o drama de milhares de famílias, vitimadas por uma mineração nefasta que operou por quase meio século. Quem sabe o olhar presidencial revigore a cobrança por pressa na solução das pendências, que se avolumam na mesa da Braskem. Diante da dor sentida pelas famílias expulsas de suas moradias, não se pode recorrer ao eufemismo da “compensação financeira e do auxílio à realocação”, pois se trata de uma gigantesca dívida contraída com pessoas que precisam ser acolhidas diante do infortúnio.
Desde o ano passado, muitas famílias saíram de suas moradias e, até hoje, aguardam o pagamento pelo patrimônio que construíram por toda uma vida. Há reclamações sobre o atraso no ressarcimento, o que aumenta ainda mais a aflição de quem viu seus sonhos tragados por trincas, rachaduras e afundamentos.
Solucionada a indenização de quem perdeu seu teto, vale atentar para os danos causados à municipalidade. São equipamentos urbanos, incluindo praças, monumentos, edificações históricas e corredores de transporte, que precisam ser considerados. Sem falar na readequação do Plano Diretor, no que diz respeito à proteção do manejo futuro das áreas condenadas pela mineração. Como as oportunidades costumam nascer das crises, quem tem poder de decisão bem que poderia abraçar uma causa comum: a possibilidade real de relocalizar a planta industrial da Braskem, retirando-a da restinga do Trapiche da Barra para o Polo Multifabril de Marechal Deodoro, onde há melhor infraestrutura para recepcioná-la, tendo inclusive o etenoduto procedente de Camaçari. Como o governo federal, via Petrobras, detém 50% das ações da Braskem, surge o caminho para o acerto de uma dívida histórica com a capital. A transferência corrigiria um erro e pacificaria a presença da indústria – e de seus investidores - como fornecedora de matéria-prima para o setor químico-plástico, importante segmento na geração de divisas e empregos. Nesse acerto de contas com a história, surgem novas perspectivas e todos ganham. A começar por Maceió, que desenvolveria um grande projeto de requalificação urbanística da região Sul da cidade. A partir daí, reencontra-se o caminho do desenvolvimento sustentável, com foco na vocação turística e no respeito à vida e ao meio ambiente.