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Nº 5693
Opinião

Causa e efeito

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Por Marcos Davi Melo - médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 15/05/2021 - Matéria atualizada em 15/05/2021 às 04h00

Por que as coisas acontecem e permanece um desafio para a mente humana? Hipócrates foi o primeiro a identificar que as doenças eram efeitos de causas naturais e não de castigos dos deuses ou de feitiçarias. Separou a Medicina da superstição. Posteriormente, na Idade Média, a superstição predominou: quando acometeu a Europa, em 1374, a primeira epidemia de Peste Negra vinda da Ásia perdurou por três anos e eliminou 1/3 da sua população. Não existindo uma causa perceptível, passaram a perseguir as mulheres jovens e os judeus, culpando-os pela praga e jogando-os nas fogueiras. O dramaturgo Shakespeare escreveu uma forte reflexão sobre a relação entre causa e efeito, uma das leis fundamentais da ciência. No segundo ato de Hamlet, Polônio diz: “Mas resta descobrir a causa desse efeito ou, ainda melhor, a causa do defeito, esse efeito que é defeito há ter causa”. Shakespeare sempre é atual.

Linus Pauling foi a única pessoa na história a receber individualmente dois prêmios Nobel - um de Química, em 1954, e um de Paz, em 1962. Tivemos outros que ganharam, mas foram compartilhados, como Marie Curie, por exemplo. Pauling sempre lembrava que a ciência é a procura da verdade, não é um jogo no qual uma pessoa tenta bater seus oponentes, prejudicar as pessoas. A intenção original da ciência é construir um conhecimento que seja consensualmente mais verdadeiro sobre determinado assunto, de maneira a servir à humanidade. É preciso ser incansável na busca das causas em qualquer área para se entender os efeitos. A CPI do Senado expõe as causas para a falta de vacinas, para a propagação de cloroquina como droga milagrosa que protegeria a população na rua em aglomerações sem máscaras para adquirir uma imunidade de rebanho, visando à manutenção das atividades econômicas, uma proposta suicida. O depoimento sério do presidente da Anvisa, confirmando a tentativa de mudar a bula da cloroquina no palácio do Planalto, contrasta com o de Fábio Wajngarten, eivado por mentiras. A confirmação do presidente da Pfizer de ter feito 6 (seis) tentativas de oferecer vacinas desde agosto de 2020 e que poderíamos estar aplicando-as desde dezembro de 2020, chegando a 18 milhões de vacinados a mais, é cruelmente injustificável. A grande vantagem de um governante é ter mais oportunidade de que os outros de fazer o bem, mas acumulam-se as evidências de que houve menosprezo em relação à compra das vacinas da Pfizer, além de ter havido boicote às do Butantan. A principal causa da tragédia da pandemia de Covid-19 no Brasil é a existência de um gabinete paralelo na saúde, que trabalhava contra as vacinas e apostava na superstição contra a ciência, constituído por figuras estranhas à ciência e por filhos do presidente. Os efeitos disso, até agora, são as perdas de mais de 432 mil vidas.

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