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quarta-feira, 19/03/2025 | Ano | Nº 5925
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Opinião

Presos no labirinto

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Em época de trevas se buscam explicações que ajudem a entender o Brasil. O antropólogo Roberto da Matta discorreu sobre a pulsão de brasileiros para não se submeter ao comando das leis. Fazê-lo seria uma demonstração de inferioridade, coisa pra subalterno. Quem tem alguma importância social, seja real ou imaginária, não se submete às leis, descumpri-las é uma coisa natural, herdada dos tempos coloniais, da Casa Grande e Senzala. Levar uma tesoura dentro do avião, promover aglomerações públicas que debocham das regras sanitárias em plena pandemia, com a participação de um general da ativa, menosprezando tudo o que represente ordem, disciplina e respeito às normas e Instituições do Estado de Direito democrático é glorificado. O STF é alvo preferido de seus ataques, mas quando serve aos seus propósitos, como a blindagem do general Pazuello na CPI, ele é ótimo. O que atende aos seus interesses é perfeito, se não os atende, é inimigo. O Estado é para servi-los.

Achar-se acima das leis, permite-lhes tudo, inclusive a mentira como modelo para governar. Que os políticos mintam para sobreviver ou superviver, infelizmente, faz parte desse jogo. Mas que a mentira seja a base dos depoimentos na CPI e do general Pazuello, é um agravamento na epidemia de fake news que nos assola. No grupo instalado no poder se identifica que a mentira não lhes é acidental ou circunstancial, nem para escapar de situações constrangedoras ou para enganar eleitores na disputa de votos, ela é a essência da sua forma de governar e de destruir os alicerces da democracia, o que serve de ração aos mitômanos que uivam a cada afronta debochada lançada por seu líder. Insubmissa às mentiras, todavia, a pandemia, descontrolada, avança para os 500 mil mortos e para uma terceira onda que poderia ser evitada caso tivéssemos mais vacinas. O escritor J. P. Cuenca resumiu em quatro frases essa situação: “Eles sabem que estão mentindo. Nós sabemos que eles estão mentindo. Eles sabem que nós sabemos que eles estão mentindo. Nós sabemos que eles sabem que nós sabemos que eles estão mentindo”. Eles atacaram a OMS, o Butantan, boicotaram as vacinas, com exceção da AstraZeneca (a da Rainha!), única aposta do governo e responsável por menos de 20% da vacinação, e forçaram o uso da cloroquina. Continuam a postar fake news na internet e acreditam que vão melhorar o Brasil. Até alguns profissionais da saúde, apesar de bom histórico pessoal, se deixaram envolver pela ideologia, pelo fanatismo e se perderam em um labirinto onde a verdade e a mentira se confundem, se misturam e já não conseguem diferenciá-las. Vitor Durão escreveu: “A pior cegueira humana é a falta de visão crítica. O fanatismo escurece o discernimento”. Mas não se pode subestimá-los. Em seus delírios, são capazes de tudo, até mesmo recuperar o bom senso.

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