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Nº 5798
Opinião

Esperan�a � preciso

MARCOS DAVI MELO * No quarto ato de Romeu e Julieta, de Shakespeare, a situação está tão dramática que Julieta exclama: “Nem esperança, nem socorro, nem remédio”. Foi algo parecido que sentimos quando foi divulgado esta semana que temos o mais baixo ín

Por | Edição do dia 20/03/2004 - Matéria atualizada em 20/03/2004 às 00h00

MARCOS DAVI MELO * No quarto ato de Romeu e Julieta, de Shakespeare, a situação está tão dramática que Julieta exclama: “Nem esperança, nem socorro, nem remédio”. Foi algo parecido que sentimos quando foi divulgado esta semana que temos o mais baixo índice do Brasil de desenvolvimento humano (IDH ) para os jovens entre 15 e 24 anos. No frigir dos ovos (embora o governo tenha protestado bravamente que estes dados estavam desatualizados ), esta constatação não causou surpresas maiores, desde que se temos um dos IDHs mais baixos do país, isto se refletirá em qualquer faixa etária na qual se promova esta avaliação. Caso pudéssemos fazer um paralelo entre esta situação desconfortável em relação a outros estados do País que já estiveram abaixo de nós e que atualmente estão melhor situados e as diferenças entre o Brasil e a Espanha, o que seria oportuno em decorrência da situação atualmente vivida naquele país após os atentados terroristas do dia 11, teríamos de alguma forma uma similaridade entre os dois casos. Na década de 80, do século passado, o Brasil tinha um PIB semelhante ao da Espanha e uma renda per capita parecida. Com otimismo, podia-se esperar um desenvolvimento semelhante entre os dois países. 20 anos depois a diferença é brutal, principalmente no que se refere à renda per capita e ao IDH. É verdade que a Comunidade Européia despejou 140 bilhões de euros a fundo perdido na Espanha e a população é a metade da nossa. Mas isto seria o suficiente para tamanha diferença alcançada entre as duas nações neste período? Pode-se especular neste caso que perdemos a nossa chance nos mirabolantes planos econômicos e na desvalorização cambial insensata de algum tempo atrás, ou outra razão qualquer, para as quais não teremos como reparar o mal ocasionado, tamanhas as conseqüências. Em relação a Alagoas e suas caminhadas de caranguejo, poder-se-ia aferir o mesmo raciocínio? Quando se fala em IDH rasteiro para a juventude, isto tem inevitavelmente um significado profundo. Faltar esperança para o homem idoso é uma questão fisiológica, na acepção médica do termo, mesmo porque restam-lhe poucos anos pela frente. Faltar esperança para o jovem é condená-lo a não ter futuro, a não ter esperança. É patológico. Sem opções, isto seria crueldade digna do terrorismo da Al Qaeda. Resta apelar para Thomas Mann que em “As Confissões do Inspetor” afirmava: “ Uma das situações na vida mais cheias de esperança é aquela em que estamos tão mal que já não poderíamos estar pior”. O autor de Os Buddenbrooks provavelmente inspirou-se em algo parecido com este quadro, para no mais profundo negrume enxergar uma réstia de luz. Uma constatação é óbvia: o governo, seja qual for, sozinho não vai conseguir reverter este quadro. Ou a sociedade organizada sai de seu imobilismo cômodo, da apatia e o governo aceita esta colaboração e faz-se a parceria efetiva, ou vence o Shakespeare de Julieta e perde o Thomas Mann das Confissões. (*) É MÉDICO

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