PACIÊNCIA ESGOTA
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Por Alberto Rostand Lanverly - presidente da Academia Alagoana de Letras | Edição do dia 15/06/2021 - Matéria atualizada em 15/06/2021 às 04h00
O amor tem dessas coisas, faz as pessoas se tornarem cegas e continuarem amando apesar de todas as falhas e os defeitos possuídos por sua cara metade, mas paciência esgota e chega o momento em que a pessoa apaixonada se comporta de tal forma que nem mesmo ela imagina ser capaz de realizar.
E assim aconteceu... outro dia conversando com Generosa, fiquei sabendo de novas estripulias praticadas por Jesualdo. E o mais interessante foram as atitudes de sua esposa, acostumada a permanecer inerte ante cada nova loucura por ele praticada. Generosa contou que começou a notar seu marido saindo todos os dias por volta das quatro horas da manhã para caminhar na praia, retornando com o arrebol. Certo dia, desconfiada, o seguiu e descobriu que ao chegar no calçadão encontrava uma madame, que depois ficou sabendo tratava-se de uma dondoca da alta sociedade maceioense, residente no bairro do Farol, e após caminharem um pouco entravam nas mornas águas da Pajuçara para namorar, ali ficando até o sol raiar. Generosa aprendeu a rotina da aventureira, provocando um encontro entre as duas, e ao se aproximar foi logo puxando um canivete automático e encostando na barriga da rival gritando: -safada crie vergonha, deixe de sair com homem casado. Sem palavras, a fulana correu tanto que em poucos minutos tinha desaparecido na esquina. Tudo parecia estar calmo, mas o affair na madrugada tornou a acontecer. Generosa, novamente seguiu a rival e quando ela estava estacionando no shopping, surgiu com um pedaço de corrente nas mãos e deu uma surra enorme no veículo da danada, quebrando, vidro, farol, retrovisor e arranhando boa parte da lataria. Um escândalo. Enganou-se ao pensar que agora havia resolvido a peleja. Dias depois as reuniões amorosas tornaram a acontecer. Generosa, resolveu que dessa vez daria um fim no romance. O relógio marcava cinco da manhã, enquanto Jesualdo abraçado a sua companheira, estavam a concluir um relaxante banho no mar da Ponta Verde, quando menos esperaram ouviram gritos de “bandida, eu lhe pego”. Não deu nem tempo de mergulhar para tentar se esconder, pois já viram Generosa, descer do calçadão e chegar no areal se dirigindo para onde os dois pombinhos se encontravam, e o pior era que ela trazia um revólver na mão. Enquanto Jesualdo ficou sem ação, somente com os olhos de fora da agua, a outra saiu correndo como uma gazela no sentindo da antiga sede do Alagoinhas, sendo perseguida a curta distância por Generosa, que enfurecida lhe batia com a pistola. Foi um escarcéu, as pessoas que estavam chegando para seus exercício matinais, paravam para olhar sem nada entender. A perseguição somente se encerrou quando os policiais da OPLIT, que pernoitam em uma base militar existente defronte à Praça do Acarajé correram e prenderam as duas rivais. Por volta do meio dia, finalmente Generosa foi libertada retornando para casa. Jesualdo, passou a manhã rezando na igreja dos Capuchinhos e a namorada, nunca mais apareceu. Aliás, meses depois os jornais da cidade anunciaram a sua morte motivada por um infarto fulminante.