app-icon

Baixe o nosso app Gazeta de Alagoas de graça!

Baixar
Nº 0
Opinião

Recordações do São João

.

Por MILTON HÊNIO. médico e membro do Conselho Estratégico da Organização Arnon de Mello | Edição do dia 19/06/2021 - Matéria atualizada em 19/06/2021 às 04h00

Está chegando o São João. Este ano não terá a alegria dos anos anteriores por causa da pandemia, que exige isolamento. Eu gosto de recordar o passado em que as festas de São João representavam verdadeiras relíquias em nossas vidas.

O Parque Gonçalves Lêdo era uma festa, como era uma festa quase todas as ruas de Maceió. São João faz parte da vida do nordestino e as crianças daquela época como as de hoje, viviam intensamente e participavam com alegria dos festejos juninos, gravando para sempre esses momentos de felicidade. Foi o que aconteceu comigo. Naquele tempo, a turma dos anos 60, hoje com netos e bisnetos como eu, e os moradores do Parque onde eu morava, confraternizavam-se numa animação sem igual. As fogueiras enchiam as ruas. Toda casa tinha uma, pois não havia pavimentação na rua, o que facilitava essa alegria coletiva. As labaredas lambiam o ar num frêmito de estonteante alvoroço. Esperávamos que ficasse só o braseiro para a cerimônia dos compadres e afilhados. Os mastros das fogueiras pareciam sentinelas dispostos e enfileirados. Milho assado na brasa e as “sortes” deliciosas com todo o seu cortejo de brincadeiras. São João chegou, meus caros amigos, e com ele a alegria do nordestino que canta, dança e se farta com a boa comida regional como a pamonha, a canjica, o milho verde, bolos, etc.. Mas, na música está o ponto alto dos festejos como o forró, o baião, o xaxado, o coco e etc. E nessa música que anima, que entusiasma, está a figura inesquecível do saudoso Luiz Gonzaga. É verdade. Não há festa junina legitima sem a presença do “Rei do Baião”. A turma canta e dança feliz ao embalo de boas músicas na “Feira de Caruaru” e diz que estava “Danado de bom”. Na animada festa até “Asa Branca”, por lá apareceu. Quando anoiteceu, “Lá no meu pé de serra”. Era assim Luiz Gonzaga; expressava através da música e das letras poéticas suas e de seus companheiros como Zé Dantas, toda a beleza do nosso regionalismo. “Eu vou mostrar pra você”, diz seu companheiro e amigo Humberto Teixeira, “como se dança o baião e quem quiser aprender é favor prestar atenção”. Luiz Gonzaga no seu repouso eterno deve estar dizendo: “Acorda povo que São João chegou”. Acorda “Sanfoneiro macho”, desperta “Assum preto”, vem fazer o seu belo canto aqui bem perto do “Riacho do navio”, sob “Luar do sertão”. É um prazer reviver outros tempos, como é bom não querer esquecer, só pensando nos tempos de outrora e na rua que nos viu nascer. E eu digo como nas famosas músicas juninas: “Ai que saudades que eu tenho / das noites de São João/ das noites tão brasileiras / das fogueiras / sob o luar do sertão / meninos brincando de roda / velhos soltando balão / moços em volta da fogueira / brincando com o coração. A noite de São João vive em minha memória. Aquela felicidade passou, porém no meu coração a fogueira da saudade continua ardendo sempre.

Mais matérias
desta edição