GILBERTO DE MACEDO * Realizar a vida com dignidade é a verdadeira missão do homem. Missão que é o cumprimento de um dever assumido pelo indivíduo que, para isso, é dotado de consciência e liberdade, produtos de sua própria constituição orgânica, atuante no curso da existência. É o encargo a realizar, um dever a cumprir, um compromisso a desempenhar, uma obrigação a dar. Assim, Ortega y Gasset, o notável filósofo espanhol dos nossos tempos, sabia dizer tudo a respeito, com uma bela frase: “Sem missão não há homem”. É da própria vocação estar a pessoa voltada para a realização de uma tarefa que escolheu voluntariamente. E que está relacionada com a vida pessoal na sociedade. Assim, existem várias modalidades, de importância humana e social, conforme veremos. Missão social – é prioritária, e diz do papel de cada um no desempenho dos deveres da cidadania. Ser político por excelência, o homem não deve omitir-se de sua participação nos problemas da comunidade a que pertence, alheiar-se, além de omissão é antiético. Fuga da realidade! Missão afetiva - do cultivo dos bons e belos sentimentos no convívio da família e das atividades em geral - públicas e privadas. Dedicação aos entes queridos e lealdade aos amigos. Renunciar ao egoísmo! Missão espiritual - dos que têm fé e se devotam de corpo e alma. Espiritualização permanente e progressiva dos atos. Sublimação! Missão profissional - da realização plena da vocação escolhida com vistas ao trabalho construtivo, nas diversas profissões, seja de qualquer nível de conhecimento que for. Assim, na profissão médica, para a tarefa incomparável de aliviar o sofrimento humano. Fraternidade consciente! Na profissão jurídica, para servir à Justiça, permitindo a dignidade da cidadania. Exige, segundo os mestres da matéria, interpretação correta das leis, que é ato difícil, determinando obediência à lógica e aos princípios da teoria geral do Direito. Nas profissões de base matemática, a submissão às regras numéricas rigorosas, na engenharia, na estatística, e demais. Na economia, a visão social e política de sua prática. E missão intelectual, nas artes à procura da beleza, de acordo com os formalismos comoventes da estética; e do respeito absoluto à verdade, na missão filosófica, e de atendimento aos fatos, nas ciências naturais e humanas; e aí, ainda, a apreensão do sentido e do significado de realidade nas ciências da linguagem e, particularmente, a missão do escritor, que jamais deve mentir para seus leitores, o que seria abominável traição. E diversas outras missões que, bem cumpridas, dizem da nobreza do homem, de sua coragem, de seu heroísmo, na luta por uma sociedade meritória a serviço da humanidade. Dignificação do homem! Cumprir a missão é, portanto, ato de admirável importância. Havemos de realizá-la, cada qual nas suas possibilidades. É um compromisso da espécie humana do fato de existir no mundo e viver em sociedade. Negar-se a isso é negar a condição pessoal e fugir ao seu papel histórico. Ter uma missão a realizar é indicativo de quem possui um projeto de vida na sociedade em que vive. De quem não se sente, à-toa, a vida sem sentido, apenas jogado num vazio existencial. Quem nada deseja, nada prefere, nada descortina. É como um vaga-lume saltitando, sem rumo, sem meta. Cumprir a missão é se afirmar como pessoa, chegar ao ponto no projeto traçado. Assim, a missão engrandece quem a escolhe e dá conta de seu desempenho. Ser missionário, portanto, enobrece o destino do homem, em qualquer sociedade. Vale a pena. É que missão é ato de nobreza que engrandece a pessoa. Devemos respeitá-la. Admiremos-la, pois! (*) É MÉDICO