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Nº 5759
Opinião

Crise é divisão de prejuízos

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Por Gabriele Chimelo - especialista em governança e reestruturação empresarial | Edição do dia 01/07/2021 - Matéria atualizada em 01/07/2021 às 04h00

O grande problema da sociedade empresária, em geral, é a cultura do “não perder”. Instituições financeiras (e muitas não financeiras também) não querem só não perder, mas sim tirar o máximo de vantagem do devedor e, muitas vezes, preferem quebrar uma empresa a abrir mão de parte dos valores.

Ora, qualquer que seja a modalidade da crise, ela exigirá divisão de prejuízos. Sejamos sinceros: poucos são os setores não afetados pela pandemia. Não falir e manter empregos já é uma grande vitória, pois famílias literalmente se alimentam daquela corporação. Mas o que vemos são grandes instituições, altamente hipossuficientes, que sequer avaliam a possibilidade de uma conciliação. Sem o extremismo de uma medida dura e traumática como a recuperação judicial, a empresa quebra, pois grande parte só funciona assim, na contramão da conciliação. A nova legislação recuperacional se esforçou para incentivar o diálogo, trazendo formas conciliatórias inteligentes e modernas. Os grupos de estudos que participaram da construção da lei, da mesma forma, apostaram nessa “sensibilidade” em razão da pandemia, mas o que vemos é totalmente diferente. Com raríssimas exceções, não temos êxitos em negociações amigáveis e empáticas. Na análise da crise instalada pela Covid-19, esperava-se mais das instituições financeiras, principalmente sensibilidade e maior responsabilidade social. Não são das empresas que estão retirando a chance de sobrevivência, mas sim de famílias que estão bem mais pobres, além de muitas ainda acumularem perdas de familiares que eram mantenedores do lar.

Falta sensibilidade, humanidade, equilíbrio nas relações e respeito pelo capital humano. Ainda vivenciamos a era do capitalismo selvagem. Foi utópica a esperança que tivemos. Em situações normais de crise, o dinheiro muda de mão - e o mercado se mantém. Mas numa crise mundial como essa, empresas e setores inteiros derreteram e desapareceram. Não mudou de mão o dinheiro: ele sumiu - e foi utilizado para salvar vidas.

O pessimismo não leva ninguém a lugar nenhum. Mas temos um longo caminho cultural a percorrer, até que os agentes financeiros e empresas entendam que conciliar é mais barato e menos traumático. E, principalmente, evita demissões e a bancarrota de quem faz a economia girar.

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