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Opinião

SOMBRAS NO ESPELHO

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Por Alberto Rostand Lanverly - presidente da Academia Alagoana de Letras | Edição do dia 21/07/2021 - Matéria atualizada em 21/07/2021 às 04h00

Lembro-me de haver desde cedo gostado de escrever. Certo dia Ana, minha eterna namorada, ao ler um dos meus textos, questionou o motivo pelo qual não concebia poesias, mas do que depressa lhe respondi: - “eu queria ser poeta, mas poeta não posso ser, pois poeta pensa muito e eu só penso em você.”

E assim o tempo passou, ainda arrisquei-me a preparar alguns versos, os quais jamais esqueci, mas nunca me senti preparado para estruturar estrofes cujo teor viessem a acalentar o meu coração...

Porém sempre admirei tal segmento literário, por entender que ser poeta é fazer de cada despedida uma saudade, é ter nas mãos os sonhos, vive-los de verdade, chorar, sorrir, sem medo de ser feliz. E lendo-os, sinto sempre acordar para uma realidade que alegra a alma, muitas vezes levando-me a sorrir para mim mesmo.

Outro dia, chegou às minhas mãos, devidamente autografado pelo autor, o título “Sombras no Espelho”, mais recente livro do ocupante da cadeira número quatro da Academia Alagoana de Letras, Arnaldo Paiva Filho. Ao conhecer cada uma das pérolas ali impressas, facilmente entendi ser a sua poesia, não somente um êxtase para o corpo, mas acima de tudo um lenitivo que hidrata a alma de quem a interpreta.

Apesar de aventurar-se em vários estilos literários, Arnaldo caracteriza-se por ser um poeta nato, um verdadeiro caçador rimas, um alquimista das letras cuja inspiração nasce dos mais simples acontecimentos.

A poesia de Arnaldo Paiva Filho, no leva a aceitar que interpretando-a, melhor compreendemos nossos próprios sentimentos, e os dos outros também, pois ele sabe como ninguém, usar cirurgicamente o poder dos termos retratados em suas estrofes, para movimentar todas as emoções que não podem mais ficar paradas dentro de cada um de nós. Os versos de Arnaldo, leva as pessoas à uma rara meditação, fazendo-as agradecer por cada anoitecer, a cantar e amar cada minuto vivido, a acordar desejos adormecidos, colher diariamente os frutos da paixão, ter o passado como futuro tão presente, fazer da existência sempre uma oração. Em “Sombras no Espelho”, encontrei no poema “Jornada”, duas estrofes que encantaram o meu pensar: “se olho para trás, pouco vejo, senão poeira devastada” e mais adiante: “resoluto, tiro o papel da gaveta, enquanto tiver tinta na caneta, continuo o meu rumo na estrada”; verdadeiras palavras de incentivo, que deixam claro termos de viver esbanjando muita disposição e altruísmo, ao nos depararmos com percursos estranhos, repletos de retas sem fim e curvas intermináveis.

Apesar de nunca haver conseguido ser um poeta, mesmo possuindo uma musa para me inspirar constantemente, alegro-me por conviver com pessoas brilhantes que dominam a poética, e como Arnaldo Paiva Filho, através dos seus escritos, nos fazem sentir da rosa murcha o perfume, ver a beleza e claridade no negrume e principalmente pintar o cotidiano em uma tela colorida de amizade.

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