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Opinião

IMAGINAÇÃO, PERCEPÇÃO E SINCERIDADE

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Por Alfredo Gazzaneo Brandão – engenheiro civil e membro da Academia Alagoana de Letras | Edição do dia 05/08/2021 - Matéria atualizada em 05/08/2021 às 04h00


Se bem soubéssemos, prestaríamos muito mais atenção e dedicaríamos todo o tempo possível aos pequeninos, não apenas aos nossos, mas a todos. Se tentássemos entender o que de verdade existe nas entrelinhas das suas afirmações e a profundidade dos seus questionamentos, enriqueceríamos bastante os nossos conhecimentos. A espontaneidade e a sinceridade desses iluminados muitas vezes nos colocam em situações, no mínimo, pitorescas ou constrangedoras. Temos que estar bem atentos ao responder ou tentar explicar às crianças determinadas questões ou situações. A compreensão desses pequenos gênios é direta. Não há sentido figurativo, meio termo ou meias verdades. Sei bem como é difícil explicar certas evidências, justificar determinadas situações e atitudes. Sou pai e avô, mas sempre fui acima de tudo amigo, companheiro, cúmplice e parceiro. Lembro-me bem de situações vividas que, se escritas, dariam interessantes e divertidos textos. Certa vez, num momento de refeição com a família, fiz um comentário sobre uma certa pessoa inconveniente e indiscreta, que frequentava regularmente nossa casa, chama ndo-a de cara de pau. Não percebi que aquele assunto estivesse sendo acompanhado, com tanta atenção, pelas pequenas à mesa. Dias depois, ao recebermos aquela costumeira visita, eis que surge a pequenina com a seguinte pergunta: ¨ Pai, um pau não é fino e comprido?¨ Olhei mesmo sem entender o objetivo da pergunta e expliquei que existem paus finos e compridos, entretanto existem também de diversos outros tamanhos e espessuras. Embora, após a explicação, deveria ter dado o assunto por encerrado, resolvi perguntar o motivo da pergunta. Para minha surpresa, a resposta veio rapidamente e de forma objetiva: “ Você disse que fulana era cara de pau. “ Eu não acho! Pois a cara dela é pequena e redonda e não comprida e grande. ¨ Por um momento, um silêncio constrangedor tomou conta do ambiente e não havia nada que pudesse ser feito para remediar ou pelo menos minimizar o mal estar ao qual, merecidamente, fui submetido. Outro fato, dessa vez, pitoresco, e que demonstra a forma de compreensão e percepção dos fatos pelas crianças, demonstra que elas estão com o WIFI ligado, conectadas a tudo e a todos, captando da forma mais simples, direta e lógica, obviamente do seu ponto de vista, tudo o que acontece ao seu redor. Apaixonada por animais, uma das filhotas, recebeu de presente um pintinho, que, rapidamente, tornou-se o xodó da casa. Não resistindo aos apertos carinhosos e ao excesso de alimentação, o bichinho não resistiu e morreu. A avó, na intenção de não traumatizar a neta, decidiu simular uma fuga para justificar seu desaparecimento e amenizar a possível tristeza que sua morte causaria à netinha. Pegou o pintinho e, sem perceber que estava sendo vigiada, dirigiu-se ao quintal e o enterrou. Como nada escapa aos olhinhos vigilantes dessa turminha esperta, a pequenina assistiu a tudo sorrateiramente, e decidiu fazer greve com a avó, passando a ignorá-la, não atender aos seus apelos e não querer frequentar sua casa nos almoços dos finais de semana. Incomodado com tal fato, chamei-a para conversar. Sentei-me em frente a ela e, carinhosamente, perguntei o que estava havendo que ela, tão apaixonada pela avó, estava tendo esse comportamento. Para minha surpresa, ouvi uma resposta inusitada: “Não quero mais saber da vovó, ela plantou meu pinto”. Esses dois exemplos, entre tantos outros, demonstram o cuidado que devemos ter com as crianças, b esses seres maravilhosos que dão sentido à nossa vida e, mais ainda, que nos ensinam, além de muitas outras coisas, a entender e a lidar com IMAGINAÇÃO, PERCEPÇÃO E SINCERIDADE.

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