Opinião
Ballet Eliana Cavalcanti – 48 anos de história se encerram
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Quando decidi escrever este texto sobre o encerramento das atividades do Ballet Eliana Cavalcanti fiquei refletindo sobre quem estaria a se manifestar: a ex-aluna da escola de ballet ou a docente do Curso de Licenciatura em Dança, da Universidade Federal de Alagoas?
Como acadêmica, logo percebi que escrever um artigo sobre a minha segunda casa, onde passei vinte e quatro anos aprendendo, ensinando e dançando ballet, era impossível expressar-me de forma distanciada. Recebi a notícia com um aperto no coração, pois fui testemunha de toda persistência, resistência e resiliência de Eliana em manter-se por quarenta e oito anos fazendo arte/dança em um estado árido em investimentos e políticas culturais voltados para a dança e demais linguagens artísticas. Além da escola de ballet, fiz parte do Ballet Íris de Alagoas – dirigido por Eliana Cavalcanti - de 1983 a 2001, atuando como bailarina, coreógrafa e assistente de produção. Em diversas ocasiões acompanhei Eliana e Gustavo Leite na Via-Crúcis de encontros com empresários e políticos para apresentarmos projetos de patrocínio e profissionalização da dança, através da criação de uma Companhia Estável em nosso estado. Eram muitas conversas e pouquíssimos apoios aos projetos. Mas ela não perdia a esperança!
Para o Ballet Íris de Alagoas, ela sempre encontrava uma solução para fazermos pequenas temporadas com os poucos recursos que conseguíamos. Nem nos dez anos em que o Teatro Deodoro passou com as portas fechadas – de 1988 a 1998 – o Ballet Eliana Cavalcanti e o Ballet Íris de Alagoas deixaram de produzir seus espetáculos de dança. Foram dez anos dançando em ginásios de escolas, no ginásio do SESC Poço e na Vila Olímpica Albano Franco – SESI/AL. Até hoje nos perguntamos como conseguimos resistir a esse período de tanta dificuldade.
No Ballet Eliana Cavalcanti e no Ballet Íris de Alagoas vivi meus anos mais felizes e produtivos. No intenso convívio com Eliana Cavalcanti aprendi muito mais que dançar ballet. Recebi lições valiosas de amor a dança, de postura ética e honesta, de respeito e admiração por todas as manifestações artísticas e, principalmente, de nunca desistir das minhas ideias, sonhos e projetos. Em novembro, as atividades do Ballet Eliana Cavalcanti se encerrarão, mas o legado artístico de Eliana continuará vivo através de seus três livros que registram seu trabalho no ensino do ballet em Maceió, através de suas ex-alunas, proprietárias de escolas de ballet, assim como, na memória afetiva de cada pessoa que, muito ou pouco, teve uma experiência com a dança, em sua escola. Finalizo este texto sabendo que ele não contempla o tamanho da importância de Eliana Cavalcanti para a arte alagoana. Isso até me frustra um pouco. No entanto, não posso deixar esse encerramento das atividades desta escola de dança sem o testemunho e o registro da importância de Eliana na minha vida e na sociedade alagoana. Assim como costumamos fazer ao final de cada aula de ballet, coloco-me em postura de reverência e aplaudo de pé o legado desta artista e seus 48 anos de dedicação ao ensino da dança. Sempre me orgulharei de dizer que sou cria de Eliana Cavalcanti. Muito obrigada por tudo, Eliana!