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Opinião

O anjo da paz

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Por Marcos Davi Melo - médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 11/09/2021 - Matéria atualizada em 11/09/2021 às 04h00

Mentiras, negação da realidade, falácias, teorias da conspiração, fake news, falsas polêmicas. Diferentes estratégias da desinformação são utilizadas de forma consciente por líderes políticos para desviar as atenções de questões reais, como enfrentamento da inflação elevada, alta dos juros, estagnação da economia, desemprego gigantesco, fome dos despossuídos. As farsas são muito aceitas por grupos minoritários da população que chegam até mesmo a entronizar um personagem público que encarna pessoalmente as fake news e as farsas. Dias após as falas incendiárias do presidente da República dirigidas no dia 7 de setembro, quando detratou o Supremo Tribunal Federal e, especialmente, o ministro Alexandre de Moraes, em discurso dirigido unicamente para a sua minoria radicalizada, o País ainda sofria os efeitos dessa postura destemperada.

A Esplanada dos Ministérios e estradas por todo o Brasil continuavam bloqueadas por caminhoneiros, sendo que alguns deles são investigados nos inquéritos em tramitação do Supremo Tribunal Federal (STF), como o Zé Trovão, que estrondou e caiu lá no México. Eles impediam a circulação de mercadorias, ameaçando o abastecimento da população. Outros alucinadamente “comemoravam a decretação do Estado de Sítio”. O mercado desabava com queda recorde na bolsa de valores, elevação do dólar, aumento do pessimismo entre os investidores. Os problemas reais nacionais, que essa cortina de fumaça não resolveu, permanecem e só se agravam com o populismo do Presidente da República em busca de vilões fictícios e bodes expiatórios que justifiquem o fracasso de seu governo. Segundo juristas, sua Exa. Teria cometido vários crimes comuns e crimes de responsabilidade nas suas falas golpistas do dia 7 de setembro.

Lá, o Presidente da República chamou de canalha o ministro Alexandre de Moraes, o ameaçou com ações de violência, pregou a desobediência às decisões do Judiciário, incentivou assim a desobediência civil e a anarquia pública. Os presidentes do STF, do Senado, da Câmara e o procurador Geral da República se manifestaram rigorosamente comprometidos com a Constituição, postura uníssona que isolava ainda mais sua Exa. na bolha do seu eleitorado radical. O presidente do TSE alertou: “A democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas, só não tem lugar para quem pretende destruí-la”. Diante da reação vigorosa das nossas instituições, o execrado ex-presidente Michel Temer foi convocado e promoveu miraculosa façanha pacificadora. E ainda ditou o manifesto pacifista onde quem pouco antes era chamado de canalha passou a ser louvado como o emérito professor Alexandre Moraes. Temer se consagra como um anjo da paz, driblando o caviloso Silas Malafaia. O anjo Temer deveria permanecer no Planalto, e sozinho, ocuparia eficientemente todos os gabinetes anexos ao do Presidente da República, economizando dinheiro público e aposentando os cortesãos inaptos. Poderia ser, inclusive, um excelente candidato a vice-presidente de sua Exa. em 2022.

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