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Opinião

170 ANOS

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Por Marcos Davi Melo - médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 18/09/2021 - Matéria atualizada em 18/09/2021 às 04h00

Em 651, o então bispo de Paris criou um abrigo, localizado no átrio da Notre-Dame, destinado a desafortunados que perambulavam pelas ruas parisienses. No verão de 1189, ao arrecadar o “dízimo de Saladino”, fundo destinado a financiar as armaduras de seu exército que seguiria em direção a Jerusalém no bojo das Cruzadas, o rei Felipe II o ampliou como benefício a “les misérables” de Victor Hugo, destinando-lhe toda a palha do palácio real para acomodar peregrinos, doentes, inválidos e necessitados, dando-lhe o nome Hôtel-Dieu, localizado na margem esquerda da Île de la Cité, onde hoje fica a praça Charlemagne. Aceitavam-se todos os desvalidos, menos os doentes contagiosos, ou que se imaginava contagiosos, como os pestilentos. Entre 1597 e 1612, Henrique IV construiu o Hospital Saint-Louis nos arredores de Paris para internar os pestilentos rejeitados pelo Hotel-Dieu. Derivaram desses abrigos da Idade Média o que mais tarde seriam os atuais hospitais.

Por iniciativa da rainha D. Leonor, viúva de D. João II, fundou-se em 1498 em Portugal a Santa Casa de Lisboa em moldes inspirados pelo Hotel-Dieu parisiense. No Brasil, elas acompanharam a chegada dos descobridores lusitanos, inicialmente, em Olinda, Santos, Bahia... Em 1851, em Maceió, o cônego João Barbosa Cordeiro, dedicado amplamente às causas públicas, inclusive envolvido com o nascedouro do ideário voltado às aspirações de independência nacional da Coroa Portuguesa, fundou o Hospital de Caridade, mais tarde a Santa Casa de Misericórdia de Maceió, que neste mês de setembro de 2021 completou 170 anos de existência, e onde me dirijo diariamente para trabalhar há mais de 40 anos. Muita coisa ocorreu na história desta instituição genuinamente alagoana. Nela, Dom Pedro II, Graciliano Ramos, Aurélio Buarque de Holanda, entre outros, foram acolhidos em suas enfermidades e aflições, como ocorre com centenas de anônimos diariamente.

Em seus leitos, a Faculdade de Medicina da Ufal iniciou os seus primeiros alunos na arte de Hipócrates. É pioneira em combate ao câncer e Radioterapia tridimensional, em transplantes de órgãos, em cirurgias inovadoras e UTIs, em hemodiálise e Medicina Nuclear, entre outras. Investiu em procedimentos tutelados que priorizavam sobretudo a segurança dos seus pacientes, a Acreditação, obtendo a nacional em nível de excelência, como foi a primeira Santa Casa brasileira a ser contemplada com a Acreditação internacional. Acima de 400 médicos, 3 mil colaboradores e mais de 100 voluntárias da Rede Feminina de Combate ao Câncer atuam na Instituição, que, convocada, correspondeu com vasta contribuição como referência no enfrentamento da pandemia de Covid-19. É o maior prestador de serviços do SUS (ainda o maior contingente de seus pacientes) em Alagoas, tarefa mantida com muito esforço, tenacidade e aos quais os avanços da Medicina de alta complexidade são ofertados indiscriminadamente. Estão preservados os princípios originais que nortearam a criação da Santa Casa de Maceió pelo cônego João Cordeiro, inspirados no Hôtel-Dieu de Paris e na Santa Casa de Lisboa.

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