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Nº 5812
Opinião

Noite de ver�o

PASCHOAL SAVASTANO * “Hoje em dia o amor e a razão quase não andam juntos”, assim falou Bottom, personagem de Shakespeare, na célebre peça “Sonho de Uma Noite de Verão”. Obra escrita no auge do inverno de 1596, acolhida pela crítica da posteridade como u

Por | Edição do dia 13/04/2002 - Matéria atualizada em 13/04/2002 às 00h00

PASCHOAL SAVASTANO * “Hoje em dia o amor e a razão quase não andam juntos”, assim falou Bottom, personagem de Shakespeare, na célebre peça “Sonho de Uma Noite de Verão”. Obra escrita no auge do inverno de 1596, acolhida pela crítica da posteridade como um trabalho perfeito e de originalidade admirável. O gênio shakespeareano lembrou à humanidade que os apaixonados habitam em um local comum. Onde o mundo parece mais vasto, no entanto, envolvido por incertezas. A ironia dos afetos se revela alegre, sublime e visionária, buscando assegurar a permanente inspiração da vida. Um século depois, o célebre pensamento de Blaise Pascal afirmou: “O coração tem suas razões que a razão desconhece. A ordem dos sentimentos sugere regras e estabelece caminhos. As escolhas amorosas dispensam explicações e criam critérios alheios ao julgamento de terceiros. Existe uma lógica pessoal decorrente da alma dos acontecimentos. Um verdadeiro código de reflexos que dita comportamentos. Impiedosos impulsos nascidos das sombras dos desencontros. Heranças contundentes das doces ou amargas surpresas da existência. A imagem machadiana diante da claridade serena da noite fez despertar para “as milhões de estrelas que cintilavam e pareciam rir dos milhões de angústias da terra”. Confrontou assim, o mar dos sofrimentos que envolve a vida terrena com os reflexos infinitos dos mistérios das noites. As esperanças que acalentam o coração dos homens se rendem à magnífica solidão das estrelas. Os olhares humanos declaram fragilidades à imensa grandeza das constelações. Preferem sonhar, se entregar a imaginação para criar um mundo de fantasias e incalculáveis projetos. A realidade tenta converter a todos. Mas cada um elege seus anseios. As ilusões valorizam os cenários. Todas as religiões proclamam felicidade apenas para os espíritos serenos. As ambições desenfreadas extrapolam o exercício da verdade e negam a harmonia que encanta as instituições. A história do mundo sempre quis estabelecer antagonismo entre o coração e a razão. O tumulto das emoções promove a separação dos valores que unem a vida. Mas a verdadeira sabedoria ergue as ações inteligentes e os desejos corretos. Em nome de um ideal ou da força dos eternos sonhos. (*) É ADVOGADO/AL

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