A vida e a morte
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Por MILTON HÊNIO. médico e membro do Conselho Estratégico da Organização Arnon de Mello | Edição do dia 30/10/2021 - Matéria atualizada em 30/10/2021 às 04h00
Na próxima terça-feira, dia 02 de novembro, celebraremos o Dia de Finados. A morte assusta a muita gente. Pensar em deixar esta vida amedronta uma boa parte das pessoas. Como dizia o saudoso poeta e compositor Vinícius de Morais: “Eu não tenho medo da morte; eu tenho saudades da vida”. É verdade. Se o direito supremo de cada homem é o direito à vida, o seu direito supremo é o de vivê-la em sua totalidade.
A vida vivida em plenitude, em paz de espírito, é um prêmio quando se alonga. No final de sua longa vida o teólogo alemão Karl Barth costumava repetir: “Desejaria tanto viver mais de um século. Não que tema a morte, mas porque me extasio com a vida”. A grande arte da vida é fazer da vida uma obra de arte. O padre Roque Scheinder diz muito bem: “Como os poetas, os homens de fé vivem com toda a intensidade a angustia e o deslumbramento da condição humana”. A esperança jorra sempre luz em caminhos por onde passamos. Que haveremos de morrer, isso é inevitável. Ninguém é eterno. Dizia o médico Myra e Lopes: “Não ficamos tristes por pensarmos na morte; ao contrário, por estarmos tristes é que pensamos nela”. É certo. Como se pensar na morte se estamos felizes, contentes e risonhos! Ame, assim, a vida e ela saberá retribuir, dando-lhe em troca a saúde, beleza, bem estar, para que você possa vivê-la intensamente, enquanto a morte não chega. No dia de finados estaremos reverenciando nossos entes queridos que já se foram. Guardamos com maior afeto, a maior saudade, os momentos felizes vividos com eles. Nossos pais, irmãos, avós, tios e amigos inesquecíveis, cujas amizades ficamos a recordar na relembrança de seus objetos, fotografias e momentos que guardamos com muito amor. A morte é, assim, a chave do segredo da vida. Da vida vivida em sua plenitude. É vivendo que amamos a vida. E se o sofrimento, a dor, as injustiças, os absurdos que encontramos ao longo do caminho são tropeços inevitáveis, a morte é a certeza que nos chegará um dia. Enquanto a morte não chega vamos caminhando, bebendo um lindo pôr-do-sol, redescobrindo cada dia coisas boas e olhando a vida bem de frente. Tenho absoluta convicção, pela confiança que tenho em Deus, que nossos entes queridos que já morreram, aqueles a quem amamos muito, continuam a nos proteger, revivendo ao nosso lado, por essa humilde e invisível presença de cada dia, de cada momento, com que banhamos de esperança a nossa saudade. Saudade perene na eternidade. Permanente no tempo. Viver é investir. A vida vai passando e não podemos parar nem procurar complicações que afetem o nosso sistema imunológico, tornando assim o organismo suscetível a doenças. A vida se constrói na caminhada. Aproveite bem o dia de hoje.