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Nº 5759
Opinião

Desagrega��o

MILTON HÊNIO * O Conselho Acadêmico de Sociedade Brasileira de Pediatria vai realizar um Fórum, reunindo profissionais nacionais e estrangeiros de diversas áreas, na cidade do Rio de Janeiro, com a finalidade de propiciar uma reflexão sobre as grandes tr

Por | Edição do dia 14/04/2002 - Matéria atualizada em 14/04/2002 às 00h00

MILTON HÊNIO * O Conselho Acadêmico de Sociedade Brasileira de Pediatria vai realizar um Fórum, reunindo profissionais nacionais e estrangeiros de diversas áreas, na cidade do Rio de Janeiro, com a finalidade de propiciar uma reflexão sobre as grandes transformações que vem passando a família brasileira e a sociedade mundial nas últimas décadas. É que tem causado preocupação aos pediatras, psicólogos e sociólogos o volume cada vez maior de crianças que sofrem emocionalmente as conseqüências desse mundo atribulado. E como serão elas no ano 2020, já adolescentes ou adultos? Como ficarão suas mentes constantemente agredidas hoje por tantos desencontros? Vejam agora essa guerra de ódio no Oriente Médio! Quantas crianças ficaram órfãs! Desde pequenas ensinadas a odiar, elas carregarão para sempre aquela visão dantesca dos pais sendo assassinados, de faces de pavor, de metralhadoras endoidecidas. Crescerão atormentadas e angustiadas inegavelmente. É uma tristeza, mas a humanidade vive o seu dia-a-dia tendo a agressividade como pano-de-fundo. Não há mais diálogo entre as pessoas, entre as Nações, somente troca de insultos, cada um querendo esmagar o seu próximo. Esses fatos têm uma influência muito grande para as crianças de hoje. Os grandes valores espirituais como a bondade, a compreensão, o afeto, a atenção, a gratidão, parece que estão desaparecendo da terra. Todos sofrem com isso, principalmente as crianças dos dias atuais. Toda pessoa tem necessidade de ser reconhecida, de ser “tocada”, como dizem os analistas, desde o nascimento até a morte. Estas são as necessidades, imprescindíveis, biológicas e psicológicas que Berne chama de “ânsia”. A ânsia de carinho de uma criança irá determinar como será o seu futuro. Dependendo da infância que tiver, dos pais, do ambiente, poderá a vida inteira ser carente de afeto, procurando sempre de alguma forma encontrar segurança nas pessoas com quem conviver. As crianças não crescerão normalmente se não forem amadas. Esta necessidade é satisfeita em geral nos primeiros três anos de vida quando ela convive com a mãe e ganha o sentido de confiança por uma convivência saudável. Crianças que vivem em ambiente de briga entre os pais, negligenciadas, surradas, ignoradas, esfomeadas, enfim, sem o carinho necessário, sofrem degeneração física e mental, com resultados negativos para o resto da vida. Mas o que impressiona os estudiosos desse tema é que o volume dessas crianças está aumentando de uma forma assustadora e preocupante. Para vocês terem uma idéia, só no ano passado nasceram mais de 3 milhões de crianças “sem estar no programa”, isto é, filhos de adolescentes solteiras. E crescem ouvindo isso da mãe. Resultado: sentem-se rejeitadas emocionalmente. Outro ponto que preocupa nos dias de hoje é a violência dos pais e padrastos contra os filhos menores. Em geral são homens e mulheres neuróticos, sádicos, perversos, que, infelizmente, tiveram a triste idéia de fecundar uma criança para fazê-la sofrer, tornando-a um adulto angustiado e deprimido. Vamos esperar, entretanto, que as coisas melhorem. A nossa esperança e a resposta para todos os nossos problemas atuais e futuros está nas palavras do Sermão da Montanha: “- Bem-aventurados os pacíficos, porque eles herdarão a terra”. Não sabemos ainda, se esta nossa pobre terra será no futuro um abrigo para a vida, onde haverá lugar para a prece do homem, o canto do pássaro, o sorriso da criança e o perfume da rosa, ou a predominância da violência de muitos homens querendo o caos total. Que Deus ajude as crianças a terem uma vida tranqüila e serem no futuro adultos felizes. (*) É MÉDICO

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