Opinião
E as novelas?

DOM EDVALDO G. AMARAL * Podemos esquecer este fenômeno avassalador das telenovelas brasileiras no campo da diversão caseira? Teses e mais teses têm sido apresentadas em universidades respeitadas do País. Milhões e milhões de telespectadores, todas as noites, se postam diante dos aparelhos de televisão das grandes cidades, das pequenas comunas do interior, nas praças de nossos po-voados e nos lugares mais remotos, com baterias alimentadas a óleo diesel, para se emocionarem diante das aventuras e desventuras de seus galãs preferidos e de suas estrelas apreciadas e torcerem de raiva diante do comportamento dos vilãos e vilãs. Nossas novelas já são produto de exportação nada desprezível. Tive oportunidade de assistir a um capítulo de ?Marron glacée? em Roma, há muitos anos. Vi a ?Escrava Isaura? em Luanda (Angola) em 1983 e em Turim, em 2000, com os salesianos da Casa, assistimos a um episódio de ?Terra nostra?, muito apreciada pelos italianos. Será que tu-do isso é algo assim tão despre-zível e sem valor? Conhecemos ? e reconhecemos bem ? os males das novelas e de muitos outros programas de TV. Elas transmitem à nossa juventude uma falsa idéia do amor, dão uma concepção equivocada do casamento e da família e conspurcam a santidade do lar. Estamos certos de seus efeitos deletérios pelos falsos valores que transmitem. De modo geral, as novelas podem considerar-se deseducativas, sobretudo para a juventude. Mas pergunto eu: Podemos também aproveitar algo de positivo nelas? Ou por outra, o que há de bom, por exemplo, numa novela como ?O Clone?, assistida todas as noites por 60 milhões de brasileiros? Neste extraordinário sucesso, o que fica de aproveitável para a formação de nossa juventude? Por amor à verdade e para ser objetivo, eu assinalaria aqui apenas alguns aspectos positivos, em meio a outros, certamente falhos e equivocados. Por exemplo: 1o ? Apresentação das conseqüências desastrosas e destruidoras da droga, que é exibida e até discutida muito apropriadamente, de forma a condená-la com veemência pelos seus efeitos devastadores na personagem e pelos depoimentos de suas vítimas na vida real, pessoas, que não são artistas, convocadas para enriquecer a trama; 2o ? A novela põe em discussão os graves inconvenientes do que seria uma clonagem humana, repudiada pela doutrina cristã, exatamente por sua origem na vida e por suas conseqüências desastrosas na dissolução da personalidade e na relação familiar e social, que um clone teria, sem pai, sem mãe, sem família, psicologicamente todo desestruturado; 3o ? As conse-qüências de uma mentira em matéria grave, mantida por tantos anos, com graves prejuízos para várias pessoas inocentes, na mais clamorosa injustiça; 4o ? A aberração do divórcio e da po-ligamia, com as tristes conse-qüências para suas vítimas inocentes, os filhos. Deixando de lado a frivolidade nacional da torcida para saber quem vai ficar com quem, não há que se negar certo valor moral e educativo na produção dramática de Glória Perez, que vem encantando tantos brasileiros. Em tempo: não é pecado assistir a algum capítulo de uma novela. Pode ser pecado, isso sim, desperdiçar tempo e descurar de suas obrigações, até graves, para assistir a frivolidades e obscenidades em qualquer programa de TV, novela ou qualquer outro. Pecado pode ser não atender aos deveres de seu ofício, para ficar escravizado à enfadonha e quilométrica apresentação dos infindáveis capítulos de uma novela. Isso até pode ser pecado... (*) É ARCEBISPO DE MACEIÓ