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Opinião

Entremontes (I)

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Por Samuel Albuquerque - historiador e Professor da UFS (E-mail: [email protected]) | Edição do dia 14/01/2022 - Matéria atualizada em 14/01/2022 às 04h00

No derradeiro dia de 2021, tomamos – eu, minha mãe, meu filho, minha tia Cícera e seu esposo – o prumo do São Francisco. Havia convencido meus familiares de conciliar nosso Réveillon com uma pequena expedição a um dos “lugares de memória” da viagem que, em 1859, fizera o imperador D. Pedro II até a Cachoeira de Paulo Afonso.

Por volta das nove horas, já alcançávamos a estrada de terra batida que, dos arrabaldes da cidade de Piranhas, parte para o Distrito de Entremontes, na borda sudeste do município, onde o Rio Capiá aparta as terras piranhenses das do município de Pão de Açúcar, ambos nas Alagoas. No percurso, os incômodos dos solavancos no carro de passeio não puderam concorrer com a beleza da paisagem, marcada, entre outras, pela Caatinga verde e pelo dolente fluxo do Boa Vista, rio efêmero da margem esquerda do São Francisco, que serpenteia a banda oeste do município de Piranhas, no sentido sudeste. Cerca de 40 minutos depois, em um dos morros da retaguarda do povoado, avistamos as torres da sua igreja e parte do seu casario. Descortinava-se uma belíssima “paisagem cultural”, emoldurada pelo intenso azul daquele céu sertanejo e pelo verde renascido nas serras e serrotes esculpidos pelo curso do majestoso rio. Sorridente, diante da margem alagoana do São Francisco, está Entremontes. Ao avistá-la, cantarolei na mente uma velha canção que diz: “[…] Compositor de destinos / Tambor de todos os ritmos / Tempo, tempo, tempo, tempo / Entro num acordo contigo / Tempo, tempo, tempo, tempo”. Não demoraria em concluir que, ali, o tempo corre como gosto: vagaroso. Aquela povoação oitocentista do Sertão do São Francisco é mesmo linda, mansa e, como já ouvira dizer, taumaturga. Passamos o resto da manhã explorando Entremontes. Visitamos bodegas, lojas e casas de artesãos, visitamos a Associação Bordados de Entremontes, palmilhamos suas ruas, observamos seu antigo e, quase sempre, bem-preservado casario, fizemos centenas de fotografias. Em uma crescente, fomos sendo tomados por aquela ambiência rústica, com cheiro de Brasil profundo, antigo, perdido no tempo; com cheiro das Murtas plantadas no entorno da igreja. Pausa para uma água, sob uma das árvores do canteiro defronte à igreja, e uma rápida olhada no celular (completamente sem sinal de operadora ou internet), para conferir as notas que tomei às vésperas da viagem. Foi pensando nas “rotas do imperador” durante aquela excursão de 1859 que anotei/transcrevi o que estará posto no próximo artigo desta série.

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