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Projeto Memoráveis Alagoas relembra vítimas da Covid-19 no estado e não aceitam que elas se tornem apenas estatística

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Contando histórias e acalentando os corações, após dois anos de execução, o Memoráveis Alagoas, projeto de extensão da Universidade Federal de Alagoas, encerra suas atividades com uma exposição na biblioteca central da UFAL. A ideia é relembrar às pessoas que os mais de sete mil mortos por Covid-19 em Alagoas são muito mais que números, são histórias, tios, avós, pais, mães e, mesmo depois de a vacinação avançar, freando as mortes, é preciso não esquecer o que o país e o mundo passaram com a pandemia.

Foi pensando em deixar mais registrado a vida e as boas lembranças deixadas pelas vítimas da Covid-19, que os alunos de comunicação social trouxeram para as diferentes plataformas relatos, poemas e palavras de acalento para os familiares e amigos que perderam alguém especial para o vírus.

Em dois anos, o memorial online foi estruturado e fez ecoar as vozes que não foram ouvidas. O projeto surgiu a partir da ideia da ação ‘Inumeráveis’, criada por artistas e jornalistas brasileiros que desejavam alterar a contagem fria da pandemia, mostrando ao mundo que a perda de uma vida não pode se tornar apenas um número.

“Enquanto os jornais e as grandes mídias falavam em números, nós fizemos o caminho contrário, transformando números em nomes, não eram apenas vítimas, eram avós, mãe, pai e filhos de alguém. Essa humanização é o nosso diferencial, é o que torna o projeto Memoráveis AL único”, afirmou Beatriz Rodrigues, aluna do curso de jornalismo e integrante do projeto.

Produzindo textos-tributos e gerando conteúdo para as redes sociais, os alunos voluntários do projeto puderam aprender de forma humanizada, sob a coordenação da professora Mércia Pimentel, responsável por dar o pontapé inicial no Memoráveis Alagoas.

A professora recebeu o convite para participar do projeto Inumeráveis, mas desejava gerar mais homenagens, a partir disso resolveu convocar os alunos e criar o projeto alagoano.

“Eu queria dar um pouco mais de dignidade a essas famílias e vítimas que tiveram suas vidas ceifadas pela Covid-19. Por isso, nós realizamos homenagens de diversas formas, seja vídeo, podcast ou textos”, contou.

Procurando e sendo procurados pelas famílias que queriam realizar uma homenagem para o ente querido, os integrantes puderam compartilhar vivências e ouvir relatos que mudaram suas formas de enxergar o mundo e impactaram suas vidas profissionais.

Os voluntários reúnem histórias como a de Maria José da Silva Santos, que morreu aos 44 anos por causa da Covid-19: “Mais conhecida como Ni, ainda moça chegou a morar em São Paulo, mas não se acostumou com a cidade de concreto e aço e decidiu voltar para o Nordeste e se fixar com a família em Coruripe, na Colônia de Pindorama, no estado de Alagoas. Lá sim estava em casa, com seus pais e os sete irmãos e foi em Coruripe que conheceu Joelson Irineu dos Santos, caminhoneiro, com quem se casou e viveu até seus últimos dias.”

A docente do sétimo período de jornalismo, Kamilla Abely, conta que participar do Memoráveis Alagoas foi uma forma de contribuir com as pessoas que se foram em decorrência da doença e conseguir levar conforto e afeto para os parentes.

“O projeto me despertou uma capacidade de sensibilidade enorme, profissional e pessoalmente. Para além da escrita humanizada, hoje exercito muito mais a capacidade de ver o outro e enxergar sua história, e é tão interessante ver o quanto uma história pode conversar com a minha, que conversa com a de tantas outras famílias. Isso humaniza demais. Todas foram muito especiais pra mim. Mas a primeira entrevista que fiz, por telefone, foi bem marcante”, contou.

Para Beatriz Rodrigues, cada história escutada e texto escrito fazia o projeto se tornar mais vivo em sua cabeça, trazendo inclusive lembranças de infância e do seu avô. “A ideia do projeto foi ficando mais clara na minha mente, são vidas, são histórias. Todos merecemos ser lembrados, não é um número, não é só uma vítima da Covid-19, era um avô, um pai, um amigo, um torcedor do CRB, por exemplo. Imaginei todas as cenas, me aproximei e me senti querida. A ideia de eternizar alguém dessa forma é complexo, mas é um trabalho muito lindo e que me orgulho muito de fazer parte. Somos todos histórias, todos vamos deixar saudades e boas lembranças. Cada abraço é um ato, cada vida, uma história, uma prosa. E como diz a frase do projeto: ‘Não somos apenas números, merecemos existir também enquanto prosa’”.

A exposição do Memoráveis Alagoas ficará aberta ao público até o dia 20 de outubro, no Hall da biblioteca central da Universidade Federal de Alagoas. De acordo com a professora Mércia Pimentel, com a exposição, cada vez mais pessoas poderão conhecer as histórias que foram interrompidas pela Covid e, por isso, existe o desejo de levar as homenagens para outros espaços.

* Sob supervisão da editoria da Revista Maré

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