Opinião
Monsenhor Cícero Teixeira de Vasconcelos
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Os velhos caminhos tortuosos dos engenhos Bananal e Floresta, diga-se Viçosa e Chã Preta, respectivamente, se entrelaçam quais ramos de um frondoso e vetusto arvoredo, à sombra de quem a história preteritamente fora escrita, ao sabor picante da garapa da cana de açúcar, amalgamada com o odor nectário do melaço que lentamente escorre por entre as moendas. No bucólico cenário naturalista daquelas úmidas paragens verdejantes, sob a égide senhorial dos patriarcas Quintiliano Victal dos Santos, cognominado Coronel, e Izidro Athanázio de Vasconcelos Teixeira, alcunhado Major, descende de sua linhagem aristocrática e não menos feudal a figura jamais obliterada de um neto, que trouxe consigo muito mais que a genética familiar de ambos os clãs, mas sobretudo o legado indelével de homem invulgar, devotado as letras de sua terra e às crenças católicas herdadas de seus antepassados, tornando-se um exímio tribuno– Monsenhor e Senador Cícero Teixeira de Vasconcelos (1892-1967).
O irrequieto menino [Cícero] criado na bagaceira do engenho de seus avós maternos, banhando-se amiúde nas turvas águas barrentas do rio Caçamba com suas manias de curvas e sinuosidades, nas últimas décadas do século XIX já demonstrava sua lídima vocação religiosa, cujo sinal precedente recebera ainda defronte a pia batismal, no átrio da capela, sob orago perpétuo do Senhor Bom Jesus dos Martírios, cujo sonho finalmente se concretiza ao cruzar os umbrais do Seminário de Maceió, mergulhando em espontânea clausura, no silencio meditativo a contemplar em marés altas o tom esverdeado da praia da Avenida, do Alto do Jacutinga [Farol], no afã de se tornar clérigo da então Diocese. Sua vida e ações há muito dão um eloquente testemunho de homem de Deus, homem da igreja e homem dos homens. As páginas desbotadas do agora centenário jornal O Semeador registram os ensinamentos teológicos de um certo Monsenhor, misto de político ovacionado por seus pares, quando das sessões do Senado da República no antigo Palácio Monroe na Guanabara, e literato de escol imortalizando-se nas obras: “Elogio Histórico de Dom Antônio Brandão; A História sobre a Catedral de Maceió; A imprensa em Viçosa e Bananal de meus Avós”, lhe rendendo uma cátedra vitalícia na Casa de José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, a saber Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas –IHGAL. O tom lapidar das sapientes palavras do jornalista Arnaldo Jambo, quando do falecimento deste Viçosense/Chã-Pretense, sintetizam fielmente o sentimento de seus conterrâneos e admiradores caetés: “Diante do ataúde do Padre eu me detenho para pensar no que foi... Sua existência exemplar, distante da malícia, das intenções preconcebidas, da ambição e do egoísmo fátuo. Ele foi um Varão Ungido”.