Opinião
ENTREMONTES ( V ): SUA IGREJA
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No coração de Entremontes está a igreja consagrada à Imaculada Conceição. A memória sobre ela foi registrada pelo augusto visitante de 1859. Conforme as notas do imperador D. Pedro II, “[…] ás 4 [da tarde do dia 22 de outubro] fomos ver a Capella construída por um homem como cumprimento de voto pelo seu restabelecimento de cholera-morbus” (notas editadas por Alcindo Sodré e publicadas sob o título “Visita de D. Pedro II à Cachoeira de Paulo Afonso”, no Anuário do Museu Imperial de 1949. p. 141).
Testemunhos coevos ao do monarca indicam que o comerciante e proprietário rural Anacleto de Jesus Maria Brandão (1798-1871), cicerone de D. Pedro II em Entremontes, seria também o edificador da Igreja de N. S. da Conceição. Natural de Mata Grande e casado com Maria Francisca da Conceição Brandão (1803-1879), “dotada” filha de portugueses, Anacleto e sua família já haviam adquirido terras e se estabelecido naquela beirada do São Francisco na década de 1840. Dessa forma, em meados dos anos 50 do século XIX, quando o cólera grassou por aqueles sertões, o clã Brandão já dominava o povoado de Entremontes. Por isso mesmo, é possível que o homem ao qual o imperador se referia fosse o próprio Anacleto. José Vieira Rodrigues de Carvalho e Silva, depois de nomear Anacleto Brandão como edificador da Capela de Nossa Senhora da Conceição do Entremontes, assinalou: “[Anacleto,] ainda vivo, é muito honrado, e bom Pai de família” (Viagem às Caxoeiras de Paulo Affonso, “Revista do IHGB”, n. 22, 1859. p. 265). Carvalho e Silva está entre os correspondentes da imprensa que acompanharam a excursão do imperador D. Pedro II pelo Rio São Francisco, naquele ano de 1859. Seja como for, a igreja que fora edificada ou reedificada por Anacleto Brandão também serviu de morada derradeira para ele e para muitos dos seus familiares. Diante do altar da capela-mor, ao rés do chão e aos pés da Imaculada, de São José e do Menino Jesus, está a lápide que indica o sepulcro do filho padre de Anacleto. A epigrafia no mármore registra: “Aqui jazem / os restos mortaes do Reverendo Padre / Mathias José de S. Anna Brandão / Nascido a 10 de dezembro de / 1821 / Fallecido a 21 de agosto de / 1869”.
Próximo dali, diante da capela-mor e entre os altares laterais, guardados pelo Sagrado Coração de Jesus e a Divina Pastora, estão sepultados o velho Anacleto e sua esposa Maria Francisca, além de outro filho do casal: o comendador Francisco Henrique Brandão. As lápides, da esquerda para a direita, registram:
“Aqui repouzão / os / restos mortaes / de / D. Maria Francisca da Conceição Brandão / consorte do / Te. Cel. Anacleto de Jesus Maria Brandão / Nasceo em Novembro de 1803 / Falleceo a 9 de Dezembro de / 1879. / Saudade eterna de seus filhos.”; “Aqui repouzão / os restos mortaes / do Tenente Coronel Anacleto de Jesus Maria Brandão / nascido a 13 de julho de 1798, / e fallecido a 30 de janeiro d’ / 1871”; “Aqui repousam / os restos mortaes / do Commendador / Francisco Henrique Brandão / Nascido a 5 de março de 1820 / Fallecido a 3 de junho de 1908 / Saudades de seus sobrinhos”.