Opinião
Smartphones não gostam da areia
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Em uma caminhada matinal durante as férias de verão no Litoral Norte gaúcho, observei um fato interessante: poucas pessoas estavam conectadas ao celular. Talvez, devido ao grande apreço que temos pelo dispositivo, tomamos mais cuidado para manter sua integridade, pois o mar, a areia e a própria maresia, podem danificá-lo. É certo que a falta de wi-fi também contribui para a baixa navegação.
Nos poucos quilômetros que percorri, do alto dos meus 75 anos, presenciei muitas cenas que estão cada vez mais escassas em nosso cotidiano: a conversa ao vivo, a troca de olhares, mãos que não estejam ocupadas teclando ou simplesmente segurando um pequeno aparelho que rouba tanto nossa atenção. Um casal de idosos dividia a sombra do guarda-sol e compartilhava o prazer da leitura. Alguns metros à frente, um homem e uma mulher, com seus 60 ou 70 anos, conversavam carinhosamente, olhos nos olhos, cabelos ao vento. Mas, não só os mais experientes desfrutavam os prazeres da beira do mar sem se importar com stories ou likes. Vi adolescentes na água, mergulhando, namorando, jogando frescobol. Um jovem dividia as atenções entre a bela namorada, enquanto faziam selfies e o irmão caçula que queria aprender a pegar jacaré. Vi meninos e meninas com seus anos fazendo caminhadas com a avó... Um grande encontro de gerações, foi o que vi. Vi homens, que em uma quarta-feira normal, estariam trabalhando, resolvendo problemas. Um, com seu chapéu colorido, ajoelhado, enchia de água o baldinho. Outro, estendido no chão, coberto de areia, servia de brinquedo para a menininha. Mulheres que correm para cumprir sua rotina de três ou mais turnos, relaxavam ao sol, mas, com “um olho fechado e outro aberto”, como elas dizem, para não perder as crianças de vista. O que não vi, foi a tradicional roda de chimarrão. Algumas famílias, em razão da pandemia, não compartilhavam o mate, prática tão marcante nos dias de praia. Porém, o número de cuias aumentou. O amargo gaúcho é saboreado individualmente, e está tudo certo. Nesse dia, vi pai e filho jogando bola, amigos conversando e ouvindo música, e, concluí meu percurso feliz. Observei, que apesar de tantas mudanças e dificuldades que nos cercam, os bons dias de praia continuam preservados. Smartphones, ali na areia? Claro que vi! Mas foram poucos, acho que não gostam daquele lugar!