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Bandeira Branca

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Enxergar o Carnaval brasileiro como uma forma de fugir momentaneamente dos sofrimentos, esquecer durante três dias toda a miséria e a dor, é a forma pela qual majoritariamente o tem-se entendido. Até eventos trágicos, as catástrofes naturais, como a de Petrópolis, resultaram em sambas como Zelão, de Sérgio Ricardo (Choveu, choveu! A chuva jogou seu barraco no chão, nem foi possível, violão/Que acompanhou morro abaixo a canção/Pedaços tristes de seu coração). As Guerras Mundiais agregaram-se criticamente ao seu rico acervo. Na Primeira Guerra Mundial, o Brasil participou simbolicamente com uma equipe médica em um hospital em Paris, enquanto enfrentava a Gripe Espanhola, o que dissuadiu o ânimo dos foliões e compositores, que geralmente são pacíficos.

Na Segunda Guerra Mundial, com nossos navios mercantes sendo afundados por torpedos nazistas com muitos brasileiros afogados ainda em águas nacionais, a opinião pública e os compositores logo ficaram ao lado dos aliados, culminando com a FEB na Itália. Entre as marchinhas de Carnaval sobraram ofensas e deboches aos adversários alemães, italianos e japoneses, como em “Chupando um pirulito” (Quando acabar o conflito/E não se ouvir mais o ronco do canhão/Eu quero ver Hiroito aflito/Comendo arroz sem palito/ Na ilha Salomão), em “Abaixa o braço” (Abaixa o braço/Deixa a cena/Lugar de palhaçada /É no cinema/Seu Adolfo/Pra que tanta valentia? /Se nós queremos a democracia). A brincadeira desanuviou o lado mais trágico da guerra. O recurso de desmoralizar líderes do Eixo, a caracterização ridícula, teve por alvo principal Hitler, mais do que outros chefes de Estado. Os seus gestos como que automatizados, o modo áspero da fala, o ritmo agitado de se mover, foram sempre mais explorados nas marchinhas. Hitler, iniciou a Segunda Guerra Mundial anexando os Sudetos tcheco-eslovacos. Putin, igualmente um déspota. anexando a Crimeia e o leste da Ucrânia - até aonde irá?

O Carnaval é não só festa e alegria, ele tem sido um entreposto de legítimas manifestações de anseios populares. O presidente Washington Luiz cantarolava óperas e marchinhas, foi apelidado o “Rei da Fuzarca”. Ele era visceralmente comprometido com a democracia. Tivemos um presidente solteiro, que distraidamente se deixou fotografar no Sambódromo com uma jovem desprovida de calcinha, e nem por isso deixou de governar e passar, democrática e pacificamente, o governo para o sucessor, eleito pelo voto popular. Sem Carnaval, pela pandemia e também pela invasão russa, gozaremos o carinho da família, escutando os frevos e as marchinhas, como a “Bandeira Branca”, de Ângela Maria, que a multidão sempre canta com a Pintoca no Pinto da Madrugada (“Bandeira branca, amor/Não posso mais/Pela saudade/Que me invade eu peço paz/Saudade, mal de amor, de amor/ Saudade, dor que dói demais/vem meu amor!/Bandeira branca , eu peço paz”).

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