Opinião
Preservar o templo
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Devemos evitar falar de religião e de política? Quando ambas estão tão imbricadas ao ponto de sofrer incalculáveis prejuízos, isso faz-se necessário. Pela importância de ambas, afinal, uma, a política, cuida da organização da sociedade, e a outra, a religião, lida com a fé e a religiosidade humanas. Isso torna-se obrigatório. O Brasil foi durante muito tempo conhecido como “o maior país católico do mundo”, e de uns anos para cá, observou o crescimento dos evangélicos, principalmente das denominações neopentecostais, acontecendo paralelamente à sua participação e influência políticas crescentes, independente dos governos que ocuparam o Planalto. A importância da religião ultrapassou o campo da teologia e levou-a ao cume das prioridades humanas no campo da filosofia.
Uma questão lapidar surgiu para os filósofos: por que o povo está mais propenso a obedecer às ordens divinas do que as humanas? Teve em Maquiavel no Il Discorsi uma análise que permanece atual: “Isso se deve aos homens prezarem mais os juramentos religiosos e o poder de Deus do que as leis dos homens. Quando o Príncipe, espertamente, compreende que a fé religiosa é um instrumento que pode substituir a coerção da população, ele instrumentaliza a religião para poder dominá-la sem precisar recorrer à força, um mecanismo sempre desgastante e ineficiente com o passar do tempo”. Para Maquiavel, a religião para os fiéis é sagrada, mas para o príncipe é, principalmente, um mecanismo de controle social e manutenção do poder. Os evangélicos, herdeiros da doutrina de Lutero - um sacerdote católico que em 1517, insurgiu-se contra o comércio de indulgências vendidas por Johann Tetzel, sendo em decorrência, afastado pelo Papa Leão X, histórico cisma que redundou na Reforma Protestante - são majoritariamente honestos e trabalhadores. As denúncias de corrupção no ministério da Educação (uma área fundamental menosprezada) envolvendo alguns pastores denigrem a saga de Lutero e a de todos os religiosos, de qualquer denominação religiosa, que exercem exemplarmente a sua fé e a sua cidadania. Em respeito à religião e aos fiéis, as denúncias precisam ser investigadas e os vendilhões do templo, se existirem, identificados. Ibn khaldoun escreveu “Uma nação se enfraquece quando o sentimento religioso se corrompe e se altera”.