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Nº 5808
Opinião

Leviatã

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Por Marcos Davi Melo. médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 04/06/2022 - Matéria atualizada em 04/06/2022 às 04h00

Genivaldo, um negro pobre e esquizofrênico, foi torturado em “câmara de gás” e em seguida assassinado em plena via pública em Sergipe, por um grupo da PRF. As imagens dessa atrocidade navegaram e causaram indignação mundial generalizada. Ad latere, a Polícia Federal organiza-se para enfrentar uma eleição que a corporação avalia será muito violenta, como jamais ocorreu nesta quadra. O que está ocorrendo no Brasil, que depois da redemocratização já superou uma hiperinflação, levou ao impeachment de presidentes e teve um ex-presidente preso sem que se derramasse uma única gota de sangue?

A filosofia esmiúça: Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês, afirmava na sua obra Leviatã, que a moralidade não existiria no estado natural no ser humano. O “bem “seria algo desejado pelas pessoas e o “mal” algo que as pessoas evitariam. Como o “bem” e o “mal” se baseariam em desejos individuais, as regras do que tornariam algo bom ou mau não poderiam existir. O “estado natural” do ser humano seria o de desejo instintivo de alcançar o máximo possível de bem-estar e poder. Esse desejo e a falta de leis que impeçam alguém de prejudicar os outros criariam um constante estado de guerra. Daí, os humanos deveriam viver em constante medo um dos outros, e para estabelecer e sustentar a paz seria preciso um contrato social, no qual uma suprema autoridade controlaria o governo e a Igreja, e quem discordasse disso, seria eliminado.

Hobbes tentava justificar a monarquia absolutista, onde o poder era uma dádiva divina para um homem só, que podia fazer tudo, um regime que semeou sangue aos borbotões, hoje espelhado nas ditaduras, ao contrário de seus sucedâneos, os filósofos iluministas e humanistas, como Montesquieu, que delinearam a República, uma forma de governo onde o poder é compartilhado entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, e as leis são para todos, sem exceções.

O clima de guerra que se instalou artificialmente no Brasil nos últimos anos é promovido por radicais que vivem só de ataques, enquanto o País mergulha em problemas reais como a inflação, a queda de renda, o desemprego, a insegurança pública, a desigualdade social, a falta de verbas para a saúde e a educação. Mas a população não é idiota e está exausta dessa trela que em nada ajuda a resolver seus problemas. 72% da população reafirmou recentemente que é contra o seu armamento.

A República só existe numa democracia onde os conflitos são resolvidos pelo voto e não pela violência. Essa jamais será admitida se vier do Estado, pago com os impostos de todos nós. A população detesta esse clima de guerra criado artificialmente, com uso da desinformação, as fake news, as arruaças, a busca do poder pela violência. A grande maioria do povo quer que as eleições transcorram em paz, como ocorreu sempre no País, e que quem ganhar tome posse.

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