Opinião
LEMBRANÇAS (Para as netas Letícia e Lavine)
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Treze anos se passaram, mas as lembranças sempre retornam e se mostram, cada vez mais vivas.
Consigo ver até o trenzinho que nos levou ao Mundo Encantado de Disney. Você, Lelê, com seus olhinhos expressivos, cabelos cacheados e bochechinhas salientes, e você, Lalá, pequenininha, sempre sorrindo, mesmo sem entender direito o que se passava ao seu redor, olhavam para todos os lados, com um ar de interrogação e uma alegria incontida. Lembro bem da sensação que tomou conta de todos nós, quando chegamos à praça principal do Parque e entramos naquele cenário de sonhos. As imagens dos livros, tão vivas e claras, pareciam verdadeiras. A fantasia foi, rapidamente, sendo incorporada, os sonhos de criança, pouco a pouco, foram se tornando reais e nós, personagens das histórias. De mãos dadas, iniciamos nosso passeio através do mundo mágico, onde, certamente, muitas surpresas e emoções nos aguardavam. A primeira imagem que nos chega, o grandioso castelo da Cinderela, já era visível, belo e imponente, do lado esquerdo da estrada e, para lá, nos dirigimos, onde uma multidão de pessoas, vindas de várias direções, para lá, também, se deslocavam, aguardando o grande show que iria acontecer.
Os clarins anunciaram a chegada de Minie e Mikey, os anfitriões da festa, que culminou com a entrada triunfal, em sua carruagem dourada, da dona do castelo, a Cinderela. Desviei o olhar do espetáculo e olhei para vocês. Lalá, nos ombros da mãe, por ter apenas três aninhos, simplesmente ria. Tudo, para ela, era novidade. Lelê, que estava nos ombros do pai parecia não acreditar no que via. A emoção tomou conta de mim, quando, surpreso, vi que uma lágrima, descia pelo seu rostinho, tamanha era a sua comoção naquele momento. Percebi que você, com quase seis anos, sempre muito curiosa e perspicaz, já amante da leitura, realmente se transportou da realidade para o mundo da fantasia e estava vivendo e esboçando toda a sua emoção. Foi a primeira de uma série de emoções e momentos inesquecíveis, naquele dia especial. Conhecer a casa da Minie, tomar um belo susto provocado pelo primeiro encontro com o desengonçado Pateta, brincar nos diversos brinquedos temáticos, dentre muitos outros, culminando, ao fim do dia, com o emocionante e belo show de fogos de artifício. As duas, cada uma abraçada com uma Minie gigante, mesmo já demonstrando sinais de cansaço, permaneciam sorridentes e felizes, assim como nós, pais e avós. São momentos que a vida me presenteou e que guardo com imenso carinho no cantinho especial, no baú das minhas joias de recordações. Hoje, volto no tempo e, pareço estar vendo, uma semana depois do regresso, nosso almoço de domingo que, nesse dia foi terraço. Tenho a sensação de vê-las, sentadinhas no segundo degrau de madeira que separava o pequeno gramado, do resto do espaço, circulado por junquilhos, rosa, amarelo e branco, em baixo do frondoso pé de romã, que abrigava, além dos frutos, exibidas orquídeas, da espécie Vanda que insistiam em ofuscar a beleza que reinava em vocês. Tagarelavam sem parar, gesticulando e articulando, com muita graça, as palavras, relembrando e relatando os momentos felizes e marcantes vividos naquela viagem.
Eu provocava, incentivando, explorando suas histórias, registrando, através de fotos e filmes, aqueles relatos, deliciando-me com suas narrativas, cheias de detalhes e emoções, aproveitando aqueles doces e inesquecíveis momentos, que o tempo eterniza no coração, através das lembranças, mas que leva embora, seguindo sua linha natural de vida. Volto a revisitar, na memória, meu antigo jardim, que parece ser o mesmo daquele dia, e não mais reencontro minhas duas florezinhas. Dessa vez, junto aos degraus de madeira, que até serviam de bancos para vocês, apenas os junquilhos, de cores rosa, amarelo e branca, que circulando a grama e o pé de romã, carregado de frutos e de Vandas, hoje exibem sua beleza, por não terem com quem concorrer, disputar a minha atenção. Esse segundo degrau de madeira, hoje vazio, assim como todos os demais cantinhos, estarão sempre ocupados, por vocês, na memória afetiva, viva, desse avô apaixonado, que guarda no seu imenso coração, com muito amor e alegria, todas as suas lembranças.