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Nº 5759
Opinião

Duas cambalhotas

EDUARDO BOMFIM * Mais uma vez socorro-me dos implacáveis adjetivos de Nelson Rodrigues. Em seus escritos de “o óbvio ululante”, selecionados por Ruy Castro, afirmava que: os idiotas perderam a modéstia, a humildade de vários milênios. O sujeito que arro

Por | Edição do dia 19/04/2002 - Matéria atualizada em 19/04/2002 às 00h00

EDUARDO BOMFIM * Mais uma vez socorro-me dos implacáveis adjetivos de Nelson Rodrigues. Em seus escritos de “o óbvio ululante”, selecionados por Ruy Castro, afirmava que: os idiotas perderam a modéstia, a humildade de vários milênios. O sujeito que arrota empáfia, presunção cultural ou bajulação científica, termina encontrando-se, também, através de uma curva de 360º com o tal do idiota citado pelo Nelson. Foi exatamente o que aconteceu com a esmagadora maioria dos famosos “cientistas políticos” que aparecem invariavelmente nas TVs por assinatura, deitando falação sobre os acontecimentos internacionais ou nacionais. Desconhece-se de onde copiaram esta moda. Ou melhor, sabe-se. Das congêneres americanas. Trata-se de uma sutil maneira de evitar-se a incômoda opinião de intelectuais engajados ou de experientes políticos sobre os principais assuntos em pauta. Nos episódios que culminaram com o golpe contra o presidente Chávez, da Venezuela, os doutos cientistas apressaram-se em esmiuçar a queda do Movimento Bolivariano. Com o qual o principal mandatário do país tenta, arduamente e através da via democrática, promover reformas que alterem a extrema desigualdade que existe no país. Ali, 80% da população venezuelana sobrevive da economia informal, em uma nação que é considerada a quarta produtora mundial de petróleo. As imensas favelas circundam os morros, envolvendo os bairros da classe alta. Pois muito bem. Explicavam a “demagogia” e a “”incompetência” do presidente e equipe. Além, é claro, do “populismo”, uma palavra cabalística, falsa, condenatória a qualquer governante que venha a tomar partido ao lado das massas populares. Aliás, ela foi reintroduzida nas Ciências Sociais, com a atual contundência, pelo presidente FHC para justificar privatizações de estatais, e ainda por cima com moedas podres, assim como para detonar o papel do Estado nos destinos da economia nacional. É o tal do enterro da “Era Vargas”. Resultado da conversa: enquanto explicavam pela TV a apatia das massas e defendiam o golpe de Estado, o povo e segmentos das Forças Armadas da Venezuela promoviam noite a dentro, verdadeira insurreição popular. Derrubaram no braço e com armas os usurpadores do poder e trouxeram na marra, de volta ao palácio, o seu presidente. Prenderam o chefe dos golpistas, o empresário Carmona, que coincidência ou não, possui nome de mafioso siciliano. Outra divisão de “prestativos” cientistas sociais fazia malabarismos dignos de contorcionistas de feira livre, para explicar que a “desistência” de Roseana Sarney, por “livre e expontânea vontade”, favorecia inapelavelmente a candidatura de José Serra. Quer dizer, FHC. Aí é que é o diabo. Reveladas as pesquisas, os três postulantes da oposição sobem meteoricamente e Lula ultrapassa os 35% da preferência popular. Somados, os três candidatos esmagavam, nocauteavam o preposto de FHC no primeiro turno. Dois fatos excepcionais e duas espetaculares cambalhotas do povo. (*) É ADVOGADO

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