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Nº 5759
Opinião

Pedofilia x celibato

DOM EDVALDO G. AMARAL * Volta às manchetes o triste tema da pedofilia, ou seja, abuso sexual de menores. É crime hediondo, seja praticado por qualquer categoria de pessoas, médicos, educadores, ou, pior ainda, por pessoas revestidas do caráter sagrado do

Por | Edição do dia 21/04/2002 - Matéria atualizada em 21/04/2002 às 00h00

DOM EDVALDO G. AMARAL * Volta às manchetes o triste tema da pedofilia, ou seja, abuso sexual de menores. É crime hediondo, seja praticado por qualquer categoria de pessoas, médicos, educadores, ou, pior ainda, por pessoas revestidas do caráter sagrado do sacerdócio. A Igreja nunca pretendeu “abafar” este assunto, nem muito menos fingir que é menos grave quando praticado por seus clérigos. É claro, também, que ela não está interessada em divulgá-lo aos quatro ventos, o que não teria sentido. Ela reconhece, e sempre reconheceu, que é crime gravíssimo e pune com severas medidas. O Código  de Direito Canônico no cânon 1395,  em seu § 2º, estabelece que o clérigo, réu deste delito, “seja punido com  justas penas, não excluída, se for o  caso, a demissão do estado clerical”. O papa João Paulo II dirigiu, há poucos anos, um documento reservado aos bispos americanos, exigindo severas medidas punitivas contra esses criminosos, acobertados pela função sagrada, que eles deveriam exercer santamente. Fala-se agora que ele estaria convocando os cardeais dos Estados Unidos para uma reunião no Vaticano, a fim de estudar o problema, que nessas últimas semanas se tornou mais agudo pela condena-ção de um sacerdote na Arquidiocese de Boston. Infelizmente, este não é o primeiro nem o único caso de escândalo por esse motivo no clero americano. Nem os outros países estão isentos dessa preocupação para seus bispos. O fato dos freqüentes processos jurídicos, promovidos contra várias dioceses nos tribunais dos Estados Unidos e do Canadá, é que está tornando esses tristes casos mais notórios e alarmantes. O que, porém, não é aceitável é pretender unir pedofilia à lei eclesiástica do celibato clerical. Religiosos e não-religiosos, casados e solteiros, cometem pecados de infidelidade conjugal, de homossexualismo ou de pederastia. A mesma matéria da GAZETA de domingo passado, que falava de casos recentes de dois padres, um de Mariana e outro de Sorocaba, falava também de um radialista de Fortaleza e de um colunista social da cidade paulista de Serra Negra. É evidente que o pediatra Eugênio Chipkevitch, preso em São Paulo, acusado de molestar crianças em seu consultório e depois filmá-las em vídeo, não tinha voto de castidade, nem estava sujeito à lei eclesiástica do celibato. Portanto, uma coisa nada tem a ver com a outra. O celibato clerical tem suas origens no próprio Evangelho. Diz Jesus no Evangelho de S. Mateus, cap. 19, vers. 11 o seguinte: “Nem todos são capazes de entender isso, mas só aqueles a quem é concedido. De fato, existem homens incapazes de casar-se, porque nasceram assim; outros, porque os homens assim os fizeram; e outros ainda se fizeram incapazes do casamento por causa do Reino dos céus. Quem puder entender, entenda.” É essa a doutrina da Igreja, que vê no celibato um único sentido: por causa do Reino dos céus! Em Mateus, 22, 30 insiste Jesus: “Na ressurreição, hão haverá homens e mulheres casando-se, mas serão como os anjos no céu.” Por aí, alguém viu na palavra Celibato, do latim “caelibatu”, uma curiosa etimologia: in caelis habitat (“Aquele que habita no céu” ou “habitante do céu”). Não há evidentemente comprovação lingüística dessa etimologia... São Paulo já advertia aos primeiros cristãos: “Gostaria que todos fossem como eu. Mas cada um recebe de Deus um dom particular, um este, outro aquele. Digo, pois, aos não-casados e às viuvas que é bom para eles ficarem assim, como eu. Se, porém, não conseguem dominar-se, casem-se, pois é melhor casar do que arder em desejo” (1Cor, 7,7). Voltarei ao assunto em próximo artigo, para vermos a história da lei do celibato clerical, que não é bem como apresentou certa revista de divulgação nacional... (*) É ARCEBISPO DE MACEIÓ

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