Opinião
A CANDIDATA
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Outro dia, acompanhado de familiares, resolvi viajar ao interior alagoano, onde esperava descansar em aprazível hotel com vistas para o São Francisco, ali existente.
No deslocamento, passamos por diversas cidades, todas já bastante enfeitadas com faixas trazendo a propaganda de centenas de candidatos, uma delas me chamou a atenção: “com a minha fé e as fezes de vocês, vou ganhar a eleição”. Aquela frase me levou a meditar e cheguei até a imaginar que “A ignorância é o caminho mais curto para a riqueza”, por ser sobre ela que muitos constroem seus castelos, principalmente no fértil campo da política. Horas depois, já hospedado em meu destino, eis que surge Jesualdo que coincidentemente, ali estava em temporada de lazer. Após o jantar, sentamos no pátio da piscina e entre uma conversa e outra, contei para ele sobre o texto do candidato, que houvera lido horas antes. Jesualdo se posicionou com firmeza e me contou o seguinte: “Rostand como você sabe, sou servidor concursado, já prestes a me aposentar. Quando cheguei por lá, determinada colega, ainda não pertencia ao quadro de funcionários, somente aparecendo tempos depois; muito conversadora, aparentemente gente boa, mas na verdade é daquelas que tem tudo, porém espremendo não sobra nada. Acontece que em todas as eleições ela se candidata. A cada dois anos, era a mesma rotina; se inscrevia em um partido político e tentava ser deputada ou vereadora a depender da vez, sempre tentando vender sonhos impossíveis. No início até votei nela em uma oportunidade, porém logo descobri tratar-se tal atitude, verdadeiro meio de vida. Três meses antes do pleito e três depois do acontecido, a cidadã permanecia afastada do trabalho por força de lei eleitoral, e a vida para seguia na maior maré mansa. Na contagem dos votos seu nome só não aparecia com um traço porque ela sufragava em si própria. Anos atrás, foi presa pela polícia federal trazendo em uma valise 007, aquela do James Bond de antigamente, centenas de títulos eleitorais falsificados. Ficou no xadrez da PF por uns dias sendo logo solta através de habeas corpus. No pleito deste ano novamente está postulando uma cadeira na câmara federal, dessa vez registrando-se no TRE como Dinha. Salvo engano o seu slogan é: “Tudo Pela Dinha”, uma autêntica cara de pau. E tem mais, falou Jesualdo certa vez, entre uma eleição e outra, quando lhe proibiram de apresentar atestados médicos, alguns deles até de médico psiquiatra, foi escalada para compor a comissão de seleção para contratação de novos servidores para nosso órgão. Resultado: vendeu o gabarito das provas. Foi a maior confusão. Certame anulado, ela presa novamente, mas já de olho nas próximas eleições e sem perder a autoestima, me falou que estava pretendendo se aposentar. Quando perguntei como? até porque possuo mais tempo de serviço e ainda não consegui, ela respondeu: “vinte anos de trabalho e o restante em horas extras”. Uma loucura. Por isso que eu não gosto de horário político, prefiro horário de verão.