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Nº 5759
Opinião

Um tema controverso

JOSÉ MEDEIROS * Há 5 anos – ou para ser mais preciso no mês de março de 1997 – escrevi um artigo na Gazeta de Alagoas intitulado “Clone e Seres Humanos”. Havia, naquele momento, intensa discussão sobre os avanços da ciência que possibilitaram o nasciment

Por | Edição do dia 24/04/2002 - Matéria atualizada em 24/04/2002 às 00h00

JOSÉ MEDEIROS * Há 5 anos – ou para ser mais preciso no mês de março de 1997 – escrevi um artigo na Gazeta de Alagoas intitulado “Clone e Seres Humanos”. Havia, naquele momento, intensa discussão sobre os avanços da ciência que possibilitaram o nascimento da ovelha Dolly, criada em laboratório, cópia genética clonada de outro ovino. O fato científico foi considerado tão importante quanto uma viagem à Lua. Entretanto, religiosos de diversas tendências consideraram tratar-se de uma ofensa a Deus. Já, nessa época, tomava vulto a suposição de que mais cedo ou mais tarde seria produzido um clone humano, bebê artificial germinado numa proveta de laboratório. De origem grega, a palavra clone significa filhote, broto, rebento. Cinco anos se passaram e as previsões viraram realidade. O ginecologista italiano Severino Antinor anunciou que já produziu um clone humano, implantado no útero de uma mãe de aluguel, em curso de dois meses de gravidez. Se isso é verdade, em alguns meses ter-se-á uma contraprova que responderá a muitas das indagações que são feitas. Como a ficção sempre supera a realidade, uma novela de sucesso expõe um clone bonitinho, simpático, de boa comunicação, uma cópia geneticamente idêntica ao organismo adulto de onde proveio. É um novo indivíduo extremamente parecido com sua matriz. Entretanto, dúvidas persistem sobre a clonagem humana, do ponto de vista ético e de prejuízos que poderão acarretar à gestante e ao bebê. A clonagem foi aprovada no animal. A ovelha Dolly caminha, pasta, sofre de artrite. É dotada apenas de conhecimento sensitivo. Mas o ser humano é bem mais complexo; é provido de razão, sentimento, emoção, raciocínio, inteligência, caráter e consciência. Materialidade e imaterialidade, organismo biológico e espírito, corpo e alma, são, no pensamento espiritualista, indissociáveis no ser humano. “Se apenas por raciocínio um humano perdesse seu espírito, deixaria de ser humano, seria um bicho humanóide qualquer. Não poderia raciocinar, nem discernir, nem ter consciência”. Um robô com tecido humano, talvez. O tempo mostrou que no caso da ovelha clonada e de outros animais em que a experiência foi repetida, as perdas foram grandes. Foram descartados, abandonados e jogados no lixo centenas de embriões e de fetos que não deram certo; ora inacabados, ora sem cérebro ou com membros atrofiados. Imagine tudo isso em relação à espécie humana. As vidas geradas por experiências fracassadas receberiam o mesmo tratamento? Posições contrárias à clonagem reprodutiva são muitas, no meio científico, religioso e na classe médica. A demorada exposição desse tema na mídia é proveitosa, vez que proporciona oportunidade de discussões, análises e reflexões. Uma brincadeira para encerrar esta crônica sobre assunto tão sério: você, leitora, casaria com um clone? Arriscaria relacionar-se com um “superstar” da ciência genética? Faria isso sem preocupações ou desconfianças? (*) É MÉDICO

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