app-icon

Baixe o nosso app Gazeta de Alagoas de graça!

Baixar
Nº 5759
Opinião

Viver a Medicina

.

Por MILTON HÊNIO - médico e membro do Conselho Estratégico da Organização Arnon de Mello | Edição do dia 15/10/2022 - Matéria atualizada em 15/10/2022 às 04h00

Há 59 anos tive a imensa alegria de receber o meu diploma de médico. Realização pessoal indescritível. Momentos de contentamento ao lado de meu inesquecível pai já adoentado. Corria e finalizava o ano de 1962. Maceió era uma cidade pequena, com apenas 62.mil habitantes. Praticamente todos se conheciam. E o médico podia exercer a sua profissão com absoluta calma, conversando com os seus pacientes, escutando sem pressa suas queixas e procurando em cada doente fazer a transfusão da sua amizade. O mundo da década de 60 está cada vez mais longínquo e a célere corrida em pleno século XXI vem deixando marcas profundas na área médica que enfrenta fantásticos desafios, traumatizantes até. E o médico de hoje, salvo raríssimas exceções, perde-se em meio à luta pela vida, ficando sobrecarregado entre pacientes, hospitais, consultórios e reuniões cientificas, restringindo frequentemente sua vida pessoal e familiar.

Na próxima terça-feira, dia 18, será comemorado o Dia do Médico. A Academia Alagoana de Medicina sente-se feliz em participar das comemorações desse dia, ao lado de outras entidades médicas como a Sociedade de Medicina de Alagoas, a SOBRAMES, o Sindicato dos Médicos e o Conselho Regional de Medicina. É uma pena, mas a realidade é que vivemos nos tempos atuais em um mundo cercado pelas doenças. Os médicos estão em número cada vez maior, espalhados por todos os lugares do Brasil, mas o que preocupa é que o número de doentes aumenta assustadoramente, fazendo com que ele corra para atender, sem ter o tempo suficiente de conversar com cada um como desejaria, promovendo a transferência do seu afeto tão importante para o bem-estar do paciente. Hoje o órgão da saúde escolhido pela grande massa dos brasileiros é o SUS, que atua junto à população e, a duras penas, oferece sua assistência médica que não é aquela que o povo quer e merece receber. Apesar de todos os desencontros, de toda insatisfação causada pela baixa remuneração oferecida pelos convênios, o médico tem se esforçado para humanizar o seu trabalho. A medicina como profissão exige uma acentuada vocação.

O dia 18 de outubro é também dedicado a São Lucas, o padroeiro dos médicos. Isso porque esse santo exerceu a medicina 46 anos depois da morte de Cristo. Ele não conheceu pessoalmente Jesus, de tal forma que todos os seus evangelhos foram escritos através de narrativas que ele ouvia. Era muito querido pelos romanos e, visitando os presídios conheceu São Paulo, onde ficaram amigos 11 anos. São Lucas dizia: “Que a medicina é eterna pois vive da dor e do sofrimento humano”. O grande clínico brasileiro Clementino Fraga dizia: “Bem aventurados os que amam a medicina e fazem dela a razão de ser de suas vidas”. Nesse movimento primitivo e bíblico do que pede e do que dá, é que reside a nossa maior grandeza. Que todos os médicos compreendam isso. É o gesto de todos os tempos, que assegura a perenidade da Medicina neste mundo cheio de conflitos e desencontros. Felicidades para os meus caros colegas de todas as épocas.

Mais matérias
desta edição